Título: Lula quer formar exército contra baixo clero
Autor: Tânia Monteiro, Leonêncio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2005, Nacional, p. A6

Preocupado com o completa desorganização da base aliada e cansado das pressões que tem recebido na disputa por cargos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ajuda a governadores para neutralizar as ações do baixo clero no Congresso e impedir o fortalecimento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios. O apelo foi feito durante jantar de Lula, na Granja do Torto, com quatro governadores, na noite de quarta-feira, quando pediu a eles que convençam os parlamentares de seus Estados a apoiar o governo e formar "um exército" contra o baixo clero. Lula desabafou que não quer mais ceder às pressões e não vai entrar no jogo fisiológico porque, no seu entender, este "toma-lá-dá-cá não tem fim".

Lula quer retomar a boa relação que tinha no início de sua gestão com os governadores e, conseqüentemente, com o Congresso. Essa aproximação permitiu ao Planalto aprovar muitas das emendas no início do mandato.

O encontro, originalmente, tinha por objetivo reunir os governadores que estavam insatisfeitos em seus partidos, para discutir possíveis mudanças. Mas o tema foi deixado de lado porque todos consideraram que o momento não era propício para mudanças de partido já que ainda existem muitas indefinições na política.

A governabilidade, então, passou a dominar as conversas entre Lula, os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Integração, Ciro Gomes, e os governadores da Paraíba, Cássio Cunha Lima, de Tocantins, Marcelo Miranda, do Amazonas, Eduardo Braga, e do Espírito Santo, Paulo Hartung. O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, não compareceu porque sentiu uma indisposição.

Enquanto saboreavam uma costela de boi, os governadores viram um presidente preocupado com a governabilidade e acuado com a desenvoltura do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Lula reconheceu que "90% dos problemas" nascem exatamente por culpa do PT e da desorganização do partido. Por isso mesmo, avisou que vai "arrumar a casa". Nesta hora, teria vindo à baila a discussão sobre a Coordenação Política. Todos elogiaram o ministro Aldo Rebelo, mas teriam destacado os seguidos ataques que vem sofrendo, particularmente do PT. Lula concordou e reiterou a permanência no cargo. O presidente teria dito que não demite ninguém sob pressão mas que, no momento certo isto poderia acontecer.

O governo reconheceu o erro de articulação ao lembrar que 60% das assinaturas que constam do pedido de abertura da CPI dos Correios na Câmara eram de deputados aliados. Questionou-se se o Planalto havia dito a eles para não assinar a CPI e, diante da constatação de que isso não aconteceu, restou a avaliação de que agora é preciso reverter o estrago.