Título: Mercadante é pressionado a deixar liderança
Autor: Ana Paula Scinocca , Gustavo Porto , Jane Miklasev
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2005, Nacional, p. A8

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) está sendo aconselhado por aliados políticos a se afastar da liderança do governo no Senado para se dedicar à campanha ao governo de São Paulo. A pressão sobre Mercadante aumentou ontem depois que o Senado recusou o nome do jurista Alexandre de Moraes para o Conselho Nacional de Justiça, rompendo um acordo político feito com a oposição. Na avaliação de governistas, além de mirar apenas na sucessão paulista, ignorando a gravidade do momento político, Mercadante teria perdido um dos principais requisitos para se sustentar no cargo: a credibilidade e confiança necessárias para garantir futuros acordos em favor do governo. Para senadores ligados a Mercadante, a melhor saída agora para o líder seria ficar fora da missão espinhosa da articulação política no Senado, deslocando-se para um outro cargo no governo. Após colecionar tantos êxitos com a aprovação de projetos importantes no Senado, Mercadante começou a se desgastar na Casa há algumas semanas, tornando-se alvo de críticas de aliados e oposição.

Na avaliação geral, depois do episódio de quarta-feira, dificilmente ele reunirá condições políticas para compatibilizar seu projeto eleitoral com as responsabilidades do cargo. Senadores do PSDB e PFL o acusam de comandar manobra eleitoreira e ter cabalado votos contra Alexandre de Moraes com ajuda do líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB).

Depois de criar "um constrangimento eleitoral em São Paulo", nas palavras de senadores do PT, Mercadante reconheceu o erro na reunião da bancada de seu partido. "Tenho que reconhecer que errei", desabafou.

Mesmo sabendo das conseqüências e riscos, o líder ainda tentou desqualificar o jurista, citando episódios negativos de sua atuação para conter rebeliões na Febem. "Você vai ser governador e vai ver que não consegue impedir coisas na Febem", interveio o senador Cristovam Buarque (PT-DF), relatando sua experiência como governador do DF.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) defendeu o ex-secretário de Justiça lembrando que, mesmo depois que ele deixara o cargo, aconteceram mais dois problemas na Febem. "Ele me recebeu muito bem várias vezes", relatou Suplicy. Na reunião da bancada, Mercadante foi aconselhado a não levar para o Senado as brigas políticas locais, pois isso poderá dificultar o exercício da liderança agravando ainda mais a crise em um momento que o governo tenta abortar a criação da CPI para investigar denúncias de cobrança de propina nos Correios.