Título: Muçulmanos não aceitam retratação da 'Newsweek'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Internacional, p. A11

A retratação feita pela revista Newsweek em relação à divulgação de uma informação sobre a profanação do Alcorão durante um interrogatório de presos islâmicos na base naval americana de Guantánamo, em Cuba, não convenceu líderes muçulmanos. A publicação da notícia de que interrogadores americanos de presos lançaram um exemplar do Alcorão num vaso sanitário provocou furiosos protestos no mundo islâmico. Só no Afeganistão, 17 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas. Também houve protestos no Paquistão, Indonésia, Malásia, Índia e territórios palestinos, entre outros. No domingo, a revista admitiu que sua fonte já não estava tão certa sobre a veracidade daquela informação e expressou solidariedade às famílias das vítimas e também aos soldados americanos prejudicados. Ontem, num comunicado, voltou a retratar-se.

"Não vamos nos deixar enganar por isso", reagiu o clérigo afegão Sadullah Abu Aman, de Badajshan, norte do Afeganistão. Ele atribuiu a retratação a pressões da Casa Branca e do Pentágono: "Foi uma decisão dos EUA para se salvar. Até um agricultor analfabeto sabe. Não aceitamos isso." Aman lidera um grupo de religiosos islâmicos que no domingo deu três dias à Casa Branca para prender e entregar-lhes os militares que profanaram o livro sagrado. "Caso contrário, vamos declarar guerra santa aos EUA."

O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que a revista não cumpriu os mandamentos do jornalismo ao fundamentar-se apenas num informante anônimo que não tinha meios de comprovar a alegação: "Isso teve sérias conseqüências. Muitas pessoas perderam a vida e a imagem dos EUA ficou muito prejudicada." A secretária de Estado, Condoleezza Rice, também lamentou: "A versão da revista causou grande dano aos esforços dos EUA para aproximar-se do mundo islâmico."