Título: A TV de Chávez, 'contra as grandes redes internacionais'
Autor: Juan Forero
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Vida &, p. A13

Os EUA têm a CNN e a Fox. O mundo árabe pode assistir à Al-Jazira ou à Al-Iraqiya do Iraque, esta última financiada por americanos. Agora, uma iniciativa bancada por Hugo Chávez, presidente da Venezuela, em breve dará à América Latina a Telesur, rede que, segundo diz, será um "contraponto à ditadura da mídia das grandes redes internacionais". Associação que envolve Argentina, Cuba, Brasil e Uruguai, mas é em grande parte financiada pela Venezuela, a Telesur terá um viés sul-americano, segundo seu diretor, Aram Aharonian. A estação, que deve iniciar as transmissões em julho, exibirá documentários sobre sem-terra no Brasil ou movimentos indígenas nos Andes, além de notícias sobre política.

A disputa sobre o que é notícia e quem deve dizê-la está presente em muitas partes do mundo. Aqui, ela atinge o coração de uma guerra de propaganda que o governo da Venezuela pretende vencer, tanto no país como na América Latina, onde Chávez e sua nêmesis, os Estados Unidos, buscam apoio de países vizinhos na tentativa de isolar um ao outro.

Jornalistas da Telesur falam de uma "rede anti-hegemônica" numa censura pouco velada à mídia americana. Âncoras da Telesur - uma abreviação de Televisión del Sur - incluirão jornalistas como Ati Kiwa, um índio colombiano que se veste com os trajes tradicionais de sua tribo. "Isto não é apenas um sonho, mas o sonho de muitos jornalistas da América Latina que verão sua realidade no ar", disse Aharonian, jornalista uruguaio de 59 anos que vive em Caracas. "Queremos nos ver através da televisão."

Mas os críticos locais dizem que a intenção de Chávez é antes alimentar a discórdia do que fazer uma cobertura ampla, com uma máquina de propaganda financiada por um governo ideologicamente orientado. "A Telesur é uma ordem presidencial", disse Alberto Federico Ravell, diretor da Globovision, estação particular que faz oposição a Chávez. Na Venezuela, com a popularidade de Chávez em 71% e seus opositores em grande parte vencidos, as redes particulares são os inimigos vocais que restam do governo.

Essas estações já veicularam muitas horas de publicidade anti-Chávez, exibiram acusações dos adversários, apoiaram um golpe que por pouco tempo o afastou do poder e uma greve no setor petrolífero.

Chávez sobreviveu e parece estar dando o troco. Uma Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão, assinada em dezembro, impõe restrições que, segundo as emissoras, visam a amordaçar o noticiário. Segundo a lei, a mídia não pode divulgar reportagens que ponham em risco a segurança nacional ou incitem à ruptura da ordem pública. Emendas ao Código Penal, que entraram em vigor em março, transformam em crime insultar ou mostrar desrespeito a autoridades do governo.