Título: Berzoini refaz promessa de Lula
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Economia, p. B1

A promessa de criar 10 milhões de empregos no governo Lula foi ressuscitada ontem pelo ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini. Animado pelos números recordes de criação de empregos com carteira assinada, ele tirou do baú essa estimativa, que outros integrantes do primeiro escalão do governo haviam, a muito custo, jogado no esquecimento. "Dez milhões, podemos chegar", afirmou o ministro. "Pode ser isso ou levemente superior." Ele explicou que a criação desse montante não diz respeito apenas ao emprego formal, com carteira assinada, que já alcança 2,7 milhões no governo Lula (números até abril), mas abrange também o mercado informal, mais domésticos, autônomos e funcionários públicos, estatutários e celetistas. "Trata-se do critério usado para a definição de ocupação", disse Berzoini, citando o conceito utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Até agora, a criação de 10 milhões de empregos era um compromisso erroneamente atribuído a Lula, segundo insistem integrantes do primeiro escalão petista, como o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por exemplo. O programa de campanha diz apenas que essa seria uma cifra ideal. Não traz, porém, nenhum compromisso quanto à abertura de vagas nessa quantidade, nem especifica a que tipo de emprego se refere: com ou sem carteira assinada.

Os dados positivos também fizeram Berzoini mudar seu discurso. Embora nos meses anteriores ele tenha criticado duramente os juros altos e o câmbio depreciado, alertando para seus efeitos negativos sobre o mercado de trabalho, ontem o ministro afirmou que o emprego não foi afetado.

"Não há razão nenhuma para supor desaceleração do emprego. Emprego gera emprego", afirmou. Berzoini disse que estava apenas se curvando à realidade dos números. "A política monetária não está afetando o mercado de trabalho", garantiu.

A mudança de tom do ministro do Trabalho - que junto com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, vinha sendo um crítico feroz da política econômica - ocorre um dia antes do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) divulgar a nova taxa básica de básica da economia.