Título: OIT sugere metas para combater o desemprego
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Economia, p. B3

Documento elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e apresentado ontem em um seminário, em Brasília, sugere que os três principais países latino-americanos - Brasil, Argentina e México - adotem políticas mais ativas para enfrentar o desemprego. E mais: que a criação de empregos passe a fazer parte das metas macroeconômicas, ao lado do controle da inflação e da dívida pública. Tais propostas se baseiam em um diagnóstico de que, nos últimos 14 anos, não se materializaram as expectativas de crescimento econômico e de emprego provocadas pelo processo de liberalização dos mercados. "Apesar do crescimento econômico e do crescimento per capita (produto por habitante) terem melhorado em comparação com a 'década perdida' dos anos 80, seguem sendo débeis e voláteis em comparação aos anos 60 e 70", diz o estudo, assinado pelos economistas Janine Ber, Christoph Ernst e Peter Auer.

Segundo os dados apresentados, as taxas de emprego pioraram entre 1990 e 2004 para Brasil e Argentina, assim como o porcentual de trabalhadores empregados no setor informal cresceu no Brasil e México. No caso dos salários, o estudo aponta uma melhoria apenas "marginal" nos valores recebidos pelos trabalhadores depois de 14 anos.

"O que se propõe neste documento é que haja uma mudança nas políticas (econômicas) que faça com que a criação de emprego se torne uma meta para os formuladores das políticas econômicas e sociais", diz o texto.

ESCOLHAS DIFÍCEIS

Os economistas admitem que a inclusão do emprego como objetivo de política econômica às vezes obrigará o governo a "fazer escolhas difíceis entre uma estabilidade de curto prazo (controle de preços à custa de recessão) e a expansão necessária para satisfazer as metas de emprego". Mas, no longo prazo, considera benéfico esse tipo de política para a sustentabilidade do crescimento.

A idéia de que a política econômica, em geral, e a política monetária, em particular, devam se balizar também pela taxa de desemprego é motivo de polêmica entre economistas. No caso brasileiro e da maioria dos países latino-americanos, as decisões dos bancos centrais sobre a taxa de juros se baseiam apenas nas expectativas de inflação. A proposta de independência dos BCs tem por objetivo, ao contrário do que sugere a OIT, blindar os dirigentes das pressões sociais nos momentos de crescimento do desemprego.

Além de propor uma ampliação do escopo das políticas macroeconômicas, o documento da OIT também orienta os governos a não esquecerem de estimular o mercado interno, ao lado das exportações. Os economistas advertem, entretanto, para os riscos que uma taxa de câmbio sobrevalorizada (como a verificada em parte da década de 90) podem trazer para a competitividade do setor exportador e, de forma indireta, para o nível de emprego.