Título: Na abertura da Agrishow, clima de tensão pré-Copom
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Economia, p. B4

Na abertura da 12.ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), ontem, em Ribeirão Preto, a preocupação das autoridades do setor e até de políticos era uma só: que a taxa Selic não aumente durante a reunião do Conselho de Política Monetária (Copom). Era a "tensão pré-Copom" estampada e alardeada por todos. Até o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), com sua língua afiada, criticou uma nova elevação: "É mais um entrave para o desenvolvimento do País, se houver nova alta de juros. Minha posição é de protestar, se houver novo aumento. Os empresários já estão cansados, a sociedade já não agüenta mais". Outro que protestou com convicção contra os juros e o câmbio foi o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, lançado por Severino como candidato a presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Temos tudo, tecnologia, para dar um banho no mundo, mas esse câmbio está prejudicando e tirando a nossa competitividade", disse Skaf. "Os juros precisam baixar, e senão baixarem, será um mal para o País, e o Copom que se responsabilize. Por isso eu defendo o aumento do Conselho Monetário Nacional, porque as regras são definidas pelo CMN, antes do Copom." Skaf acrescentou que os juros e o spread bancário sangram o caixa do governo.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, não entrou em rota de colisão. "Mais importante que os juros, é o câmbio", destacou. "Juros altos são atração de investimentos em dólares especulativos ou não, para aplicação no Brasil, e o Banco Central está estudando outros mecanismos de combate à inflação, que é a prioridade do governo". Rodrigues não quis opinar sobre o que poderá ocorrer na reunião do Copom. "Isso é um assunto decidido pela área técnico-financeira do governo, e não participo desse processo", afirmou.

Mas outras pessoas ligadas à agricultura não perderam a oportunidade de, efusivamente, criticar o possível aumento do juro básico. "Se aumentar de novo, será mais um desastre", atacou o secretário da Agricultura de São Paulo, Antônio Duarte Nogueira Júnior. "O Brasil precisa parar de ser um país 'jurista', não o do Poder Judiciário, mas dos que vivem dos juros na economia. O Brasil já tem o recorde mundial de juros altos e poderá batê-lo novamente."

O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Francisco Matturro, aposta que o índice da taxa será mantido. "Mas se subir, atrapalhará os negócios na Agrishow", comentou.

"Manter ou subir é um enorme desafio, mas a taxa de juro inibe o investimento ou intercepta a aplicação do desenvolvimento pelo risco de não cumprimento do pagamento desse ou daquele empréstimo", destacou o presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), Fabio Meirelles. O usineiro Maurílio Biagi Filho, conselheiro da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), alegou que não entende os critérios do Copom, mas considera falta de sensibilidade e de bom senso os sucessivos aumentos da Selic. "Deve haver uma razão técnica tão forte, que ninguém entende", disse.