Título: Setubal ataca a política fiscal do governo
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Economia, p. B4

O presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, atacou ontem a ineficiência da política fiscal do governo Lula. Segundo o banqueiro, com a ineficácia no controle dos gastos públicos, há uma transferência para os ombros dos gestores da política monetária (no Banco Central) da missão de controlar a inflação. "De um lado você tem o Banco Central fazendo um grande esforço com a política monetária para controlar a demanda. Do outro, a política fiscal não é tão rigorosa. Os gastos públicos estão aumentando muito", disse Setubal, durante a apresentação dos novos diretores da Itaú Seguros e a Itauseg Saúde. De acordo com o banqueiro, os instrumentos para o controle da inflação precisam ter novo balanceamento. "O presidente (Lula) já falou sobre isso. Precisamos encontrar outros instrumentos para combater a inflação que não só a taxa de juros, porque isso cria um ônus exagerado sobre a política monetária. Acho que o Brasil tem focado exageradamente na política monetária", disse.

A prova de que o governo não faz sua parte está nos aumentos dos gastos ocorridos em 2004. Segundo Setubal, "os números mostram" que os gastos públicos, excluídas as despesas de juros, têm crescido entre 6% e 7% ao ano. "Não vamos dizer que estamos com uma política fiscal apertada. Esse nível de crescimento dos gastos públicos mostra claramente que esse não é o caso", afirmou.

Ele preferiu não fazer previsões quanto ao resultado da reunião mensal do Conselho de Política Monetária. Disse, entretanto, que o BC tem atuado com correção e que sem a última série de aumentos da Selic a inflação teria voltado com vigor. O presidente do Itaú disse que a alta sucessiva de juros afetou mais as operações de crédito de curto prazo. Os financiamentos de longo prazo não foram atingidos por um único motivo: o BC manteve uma ação enérgica para o controle da inflação. "Se houvesse uma acomodação do BC ante o aumento da inflação, o mercado começaria a elevar a previsões de juros futuros e isso atingiria os financiamentos de mais longo prazo", comentou.

Setúbal disse, por fim, que o Brasil deve atacar o déficit nominal, mais do que discutir sobre a expansão do porcentual de superávit primário sobre o Produto Interno Bruto. "Se fala muito em superávit primário, mas nós temos um déficit nominal, não vamos nos esquecer disso. Quanto mais rápido o Brasil reduzir o déficit nominal, mais rápido poderemos conviver com juros mais baixos", afirmou Setúbal. Mais uma vez, uma boa forma de resolver, segundo ele, é controlar os gastos públicos.