Título: 'Querem dividir os emergentes'
Autor: Patrícia Campos Mello e Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Economia, p. B6

O chefe da Delegação Permanente do Brasil em Genebra, embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa, afirmou ontem que as críticas à proposta brasileira de redução das tarifas de bens industriais têm um objetivo "intimidatório". A proposta, apresentada pelo Brasil, Índia e Argentina há um mês, foi considerada conservadora. Países desenvolvidos argumentam que nações como essas precisam ter uma classificação diferente dentro dos países em desenvolvimento, porque são mais ricas, e portanto, devem receber menos concessões e promover uma abertura maior. "O intuito deles é dividir os países em desenvolvimento", disse Seixas Corrêa, que apresentou candidatura a diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), mas foi derrotado. "Não podemos comprar a argumentação do inimigo. Nós temos uma grande plataforma industrial e temos de protegê-la legitimamente", disse o embaixador, que participou de conferência em comemoração aos 10 anos da criação da OMC.

A proposta brasileira também foi criticada por países emergentes. Alguns países em desenvolvimento afirmaram que a proposta contemplava apenas os interesses dos três países e não o conjunto dos emergentes. "O grande desafio na Rodada Doha, neste momento, é que os grandes países em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil, correm o risco de serem espremidos de cima para baixo e de baixo para cima", afirmou Celso Lafer, ex-ministro de Relações Exteriores.

Segundo Seixas Corrêa, o Brasil não aceita a proposta de dividir os países em relação a suas escalas de desenvolvimento "O mandato de Doha não menciona distinção entre os países em desenvolvimento."

Seixas Corrêa comentou pela primeira vez a escolha de Pascal Lamy, ex-comissário de Comércio da União Européia e defensor de políticas protecionistas, para a OMC. "Cabe ao Brasil acatar a vontade da maioria dos países membros e se preparar para trabalhar em conjunto com o futuro diretor-geral da entidade, o francês Pascal Lamy - cujo nome foi o único a continuar na disputa pelo cargo."

AUSÊNCIAS

Na conferência de ontem, estava prevista a participação do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, do prefeito de São Paulo, José Serra, do governador Geraldo Alckmin, do presidente da federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Ninguém apareceu. O único que deu alguma justificativa foi Serra.