Título: TAP não vai investir capital algum em negociação com Varig
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Economia, p. B13

Qualquer que seja o resultado da associação da TAP com a Varig, a companhia aérea portuguesa não vai investir capital próprio na empresa brasileira, informou ontem um porta-voz da TAP em Lisboa. Na segunda-feira, a Fundação Ruben Berta, controladora da Varig, divulgou um fato relevante comunicando ao mercado que assinara com a TAP um "memorando de entendimentos com o objetivo de conduzir negociações que levem à capitalização, direta ou indireta", isto é, da TAP ou de terceiros, na Varig. Como diz o comunicado, as negociações estão em fase preliminar e não há "garantia de sua conclusão". Em nota divulgada ontem, a TAP diz que poderá vir a participar em até 20% do capital da Varig, valor máximo permitido pela legislação brasileira. O presidente da companhia portuguesa, Fernando Pinto, descarta, porém, qualquer cenário de fusão. As duas companhias devem, afirma o executivo em um comunicado, "manter-se independentes, embora tirando partido das inúmeras sinergias que podem ser criadas". Em outro comunicado, enviado aos funcionários da TAP no dia 4, o executivo - que trabalhou 28 anos na Varig, presidindo a empresa de 1996 a 2000 - informou que os destinos da Varig não são "indiferentes" à TAP".

O Brasil é o principal destino internacional da TAP, que atualmente opera 40 vôos semanais para diferentes cidades brasileiras, incluindo vôos diretos para o Nordeste. A TAP é também a companhia estrangeira com um maior número de freqüências no Brasil. As duas companhias, que são parceiras na rede Star Alliance, já operam alguns vôos compartilhados. Segundo fontes na Varig, as negociações podem intensificar esse compartilhamento. A Varig poderia reduzir alguns vôos menos rentáveis na Europa, que seriam substituídos por vôos da TAP, com escala em Lisboa. Isso permitiria à empresa deslocar aeronaves para rotas mais rentáveis ou mesmo devolver equipamentos às empresas de leasing. A TAP tem ainda um grande interesse na VEM, empresa de engenharia e manutenção da Varig.

A associação com a TAP é a primeira medida concreta da nova gestão, sob o comando da dupla David Zylbersztajn, presidente do Conselho de Administração, e Henrique Neves, presidente executivo. Acredita-se que o anúncio de um início de negociação com a TAP poderia emprestar credibilidade à Varig nas conversas com credores - tanto com o governo brasileiro, credor de 55% de uma dívida de R$ 6,4 bilhões, quanto com as empresas de leasing.

DESCONFIANÇA

Na Varig, a associação com a TAP é vista com uma certa desconfiança, justamente pelo fato de a TAP não ter capital para investir. E, mesmo que a TAP viesse a adquirir 20% da Varig, resta ainda a dúvida acerca de quem seria o investidor brasileiro que iria adquirir o controle de fato.

Sob pressão dos credores privados, que ameaçam arrestar aeronaves, a Varig tem focado sua gestão em aumento de rentabilidade. Com isso, a empresa perdeu participação de mercado - em abril, ela foi ultrapassada pela Gol. A empresa está com salários atrasados e tem dificuldades diárias para pagar combustível à BR Distribuidora e tarifas aeroportuárias à Infraero. Boa parte das receitas ficam retidas no Banco do Brasil, na forma de recebíveis.

Sob o comando de Fernando Pinto, a TAP melhorou bastante sua situação financeira e operacional, mas não a ponto de poder investir na Varig, cujo faturamento, de R$ 8 bilhões, é praticamente o dobro do seu 1,2 bilhão. A TAP fechou o ano passado com lucro operacional de 8,6 milhões. Neste primeiro trimestre, porém, o prejuízo foi de 29,4 milhões. Além de não estar em uma situação financeira tão confortável assim, a TAP estaria ainda, segundo a imprensa portuguesa, se preparando para ser privatizada.