Título: Fita mostra esquema de licitações viciadas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2005, Nacional, p. A6

Ex-funcionário Maurício Marinho diz que Novadata, de amigo de Lula, virou maior fornecedora de computador para os Correios ESQUEMA: "Tem de ser muito fechado. Tenho 4 pessoas de confiança dos 100 que trabalham aqui para conversar e dizer 'vai lá e faz esse laudo'. Não pode ser qualquer um. Tem 25 anos que trabalhamos juntos. É essa equipe que nós temos para dar suporte." UNIFORMES: "Esse é o nosso grande gargalo. O uniforme nosso vai do calçado até o boné, tênis, meia, cinto, calça, camisa, bolsa para carteiro, capa de chuva... Tudo é crítico. Pelo acordo coletivo, temos de dar a cada carteiro protetor solar. Um caos. Cada compra é R$ 1 milhão, R$ 2 milhões. 60 mil carteiros. Uniforme é muito sério." CONTRATOS: "Quando é menor que R$ 650 mil quem assina sou eu e o diretor. Quando é maior, eu assino relatório, mas quem assina o contrato é o diretor e o presidente. Abertura de processo licitatório é o diretor quem autoriza, acima é o presidente. Por isso tem de ser um negócio fechadinho e arrumado. (...) O padrinho do Roberto Jefferson pediu para dar ajuda numa empresa dele, muito amigo dele ajuda (com doação de campanha) a Canion (?). O contrato ia vencer em março. Em seis meses eu iniciei o que chamo de gestão fina." NOVADATA: "No fornecimento de materiais o mais forte é eles (sic!). Nos últimos dois anos tem vencido quase tudo aqui. Na última licitação deu problema, perderam. (...) Fizeram processo licitatório, R$ 50 a 60 milhões e chegaram lá embaixo sozinhos, não contaram com o presidente (...). Acertaram com cara lá embaixo (Diretoria de Tecnologia). Eles (Novadata, Positiva e outra empresa) perceberam que só estavam os três e achavam que podiam ganhar mais. Ele disseram para dar como deserta e marcar outra abertura. O que é aconteceu: apareceu AGT, Omega perguntando para nós. A área de tecnologia aumentou o preço e mandaram para cá um novo preço e nova data. No dia, quando a Novadata chegou, tinha mais três empresas. Dos quatro itens, a Novadata só ganhou um. (...) Foi o maior problema. Eles perderam R$ 1 mil por equipamento." GRANDE PORTE: "Aqui, Novadata , Positiva, Itautec, CTIS são consideradas de grande porte. CTIS não tem conseguido ganhar porque o preço está muito alto. A Itautec tem preço muito alto. A Microtec não tem um preço muito alto." EMBRATEL: "Na PPP você pode no mínimo 5 anos e máximo 35 anos de contrato. E tem mais: ele quer ter no mínimo R$ 20 milhões. Como são valores enormes, cumprimos todos os critérios da PPP. Vamos fazer outro na área solução ensino à distância e comunicação corporativa, TV (...). A contratação é de R$ 20 milhões/ano, para nós um grande negócio. (...) Tem gente junto com a Dell. A Embratel tá nessa. Estou dizendo que está porque a pessoa que ouvir falando tem ligação com a Embratel." PRINCIPAIS REVELAÇÕES DE MAURÍCIO MARINHO SOBRE O ESQUEMA Expedito Filho Odail Figueiredo BRASÍLIA

A Novadata, empresa de informática de Mauro Dutra, amigo do presidente Lula, foi citada pelo ex-diretor dos Correios Maurício Marinho como a que mais ganhou licitações no Correio em dois anos. No vídeo gravado sem seu conhecimento, ele diz que a Novadata "é a mais forte no fornecimento" de computadores. Outras empresas, como Positiva, Embratel, Dell e até a Gol também foram citadas. Elas teriam negociado com a diretoria dos Correios a venda de serviços e produtos.

A Novadata, diz Marinho, chegou a perder negócio de R$ 60 milhões por pagar propina apenas para a Diretoria de Tecnologia. "Na última licitação eles pensaram que iam ganhar, mas perderam (...) Acertaram com a tecnologia, não contaram com o presidente" (dos Correios, João Henrique).

Ele ensina o que fazer para os negócios parecerem legais. "Quando empresários brigam, ninguém ganha e o preço vai lá para baixo. E não me atende direito, fica pedindo repactuação", diz. "A Novadata tá aqui todo dia batendo na minha porta. Daqui sai o referencial dos contratos, especificações. Com copiadoras trabalhamos direto, Xerox, Canon." Para enganar o TCU, ele tem seu método: "O que a gente não pode é ter itens (nos editais) que excluam essa margem de participação (de empresas). Senão eu vou queimar o processo e o TCU manda suspender."

Marinho diz que se pode roubar de tudo nos Correios. De projetos de R$ 20 milhões, envolvendo parcerias público-privadas (PPPs) até compra de tênis. "O uniforme vai do calçado ao boné. Acabei de participar de reunião com os maiores produtores de calçados do Brasil. Estávamos falando da compra de R$ 10 milhões em tênis."

O ex-funcionário conta que a Embratel estaria participando de uma PPP, onde a diretoria dos Correios funcionaria como contratante. E revelou que um diretor da Siemens que freqüentava seu gabinete era um dos corruptores. "O careca que estava aqui é o diretor da Siemens. Ele também acerta."