Título: Acordo não significa trégua nas invasões, avisa líder
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2005, Nacional, p. A13

O atendimento às principais reivindicações do MST arrancado durante negociações encerradas na madrugada de ontem, em Brasília, não vai garantir uma trégua nas invasões, segundo o coordenador nacional Gilmar Mauro. "Temos o desafio de continuar lutando contra o poder econômico e o latifúndio. Essa é, agora, nossa principal briga", disse Mauro. Avaliando a marcha, no momento em que as caravanas iniciavam o retorno para seus Estados, o coordenador disse que o movimento ficou apenas "parcialmente satisfeito" com o resultado da pressão sobre o governo do presidente Lula. "O próprio Lula reconheceu que o governo não vem cumprindo o que estabeleceu como meta, mas disse que, de agora em diante, vai fazer todos os esforços para cumprir". Segundo Mauro, o movimento espera que as novas promessas sejam cumpridas. Depois de dizer que o MST é otimista, ele acentuou que as ocupações vão prosseguir, apesar do acordo. "Vamos continuar pressionando, pois o papel do MST é de autonomia frente ao governo e a partidos".

A reunião que selou o acordo foi convocada às 23 horas pelo ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário, a pedido de Lula. Antes, o presidente havia se reunido com a comissão do MST, na qual não chegaram a um consenso. "Não tínhamos o que dizer ao nosso pessoal", resumiu Mauro. O encontro final foi bem mais restrito e produtivo: além de Gilmar Mauro, os coordenadores nacionais João Paulo Rodrigues, Jaime Amorim e Fátima Ribeiro representaram o MST. Do lado do governo, estavam Rossetto, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, José Graziano e dois assessores.

O resultado da reunião foi passado aos sem-terra em assembléia realizada de manhã no Ginásio Nilson Nelson, ao lado do estádio Mané Garrincha, onde estavam acampados. A imprensa não teve acesso.

INVASÃO

O MST invadiu ontem, na Bahia, a primeira propriedade após a marcha a Brasília. Cerca de 300 famílias ocuparam terreno e quatro casas abandonadas na Fazenda Boa Esperança/São Bento, no município de Ibicarai. Segundo o MST, a Boa Esperança teria 500 hectares onde existia há anos roça de cacau e criação de gado. O proprietário Normando Macedo nega que a fazenda esteja abandonada.