Título: 'Se quiserem guerra, terão'
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2005, Nacional, p. A4

Os líderes dos partidos de oposição no Senado não vão aceitar pacificamente a manobra do governo para impedir que o bloco PFL-PSDB fique com o comando da CPI dos Correios. Com 29 senadores, o bloco de oposição tem direito a comandar ou a designar o relator da CPI. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avisou, no entanto, que os partidos da base aliada deverão formalizar um bloco maior ¿ PMDB, PT, PTB, PSB, PL e PPS, com 45 senadores ¿ CPI. ¿Se quiserem guerra, terão guerra. Mas não vão tirar da oposição a presidência ou a relatoria da CPI¿, afirmou ontem o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). ¿Essa manobra só pode ser medo e receio das investigações¿, completou. Ele lembrou que as últimas CPIs mistas (Câmara e Senado) obedeceram o regimento do Congresso: a presidência e a relatoria foram divididas entre os maiores partidos no Senado, que é o bloco de oposição, e na Câmara, que é o PT. Os petistas da Câmara querem a relatoria.

A tática dos oposicionistas é, depois de instalada a CPI, ampliar o campo de investigações para estatais com nomeações políticas, como é o caso do IRB. ¿A ampliação do tema da CPI vai ser uma conseqüência do que vier a ser dito nos depoimentos.¿ Se falarem que o esquema atingia outras empresas, vamos investigá-las¿, disse o líder Agripino Maia. ¿A preocupação do governo é que a CPI acabe dando palanque para outras coisas. Corre o risco de a CPI ser contaminada por outras denúncias¿, observou o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES).

Apesar do empenho, os líderes dos partidos aliados estão com dificuldades para barrar a criação da CPI. Na Câmara, 218 deputados assinaram o requerimento. No Senado, foram 49. O mínimo de assinaturas para criação de CPI mista é 171 na Câmara e 27 no Senado. Renan Calheiros marcou para quarta-feira, às 10 horas, a sessão para leitura do requerimento da criação de CPI. A estratégia do Palácio do Planalto é tentar convencer os deputados aliados a retirarem a assinatura do requerimento e, dessa forma, inviabilizar a criação da CPI.

A idéia é que a debandada dos governistas ocorra no último instante, momentos antes de Renan Calheiros ler o requerimento para criação da CPI. ¿Temos uma reserva técnica de assinaturas. Os governistas vão se desmoralizar pela tentativa de acabar com a CPI¿, disse Agripino Maia. O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), considera ¿bem difícil¿ conseguir impedir a criação da CPI. ¿Os líderes estão trabalhando junto a suas bancadas para a retirada das assinaturas.¿ A situação se complicou depois que o PT não conseguiu aprovar na reunião do diretório nacional recomendação para que os 19 deputados petistas retirassem suas assinaturas do pedido de criação da CPI dos Correios.