Título: Nova lei não breca os protestos
Autor: Gerusa Marques, Marina Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2005, Economia, p. B7

A promulgação pelo Congresso boliviano da Lei de Hidrocarbonetos, que impõe limitações a companhias estrangeiras que exploram gás e petróleo na Bolívia, não aplacou os protestos nos últimos dias no país. O líder do partido Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales, um dos maiores opositores do governo de Carlos Mesa, rejeitou a nova legislação sob o argumento de que ela "ainda atende aos interesses" das empresas estrangeiras. O MAS queria que a lei fixasse em 50% o valor dos royalties que as companhias terão de pagar ao governo federal, além de radicalizar as medidas de nacionalização dos pontos de produção. A legislação aprovada fixou os royalties em 18%. Outros 32% serão cobrados das empresas, mas a título de impostos, destinados aos governos departamentais (provinciais).

Pelo terceiro dia consecutivo, ativistas do MAS e da Central Operária Boliviana (COB) fizeram manifestações violentas em vários pontos de La Paz. A polícia usou jatos de água e disparou bombas de gás lacrimogêneo para reprimir protestos na Praça de Armas, no centro da cidade.

Na Praça Murillo, onde estão as sedes do Executivo e do Congresso, policiais e soldados impediam o trânsito de veículos e pedestres não autorizados. Em outros locais, manifestantes usaram bombas de efeito sonoro e realizaram improvisados comícios pedindo a renúncia de Mesa.

Apesar da intensidade dos protestos e dos choques esporádicos entre policiais e manifestantes, ninguém ficou ferido na região da Grande La Paz, segundo um balanço da polícia local.

Também se mantinham ontem sete bloqueios de estrada em vários departamentos, que paralisam o país desde a semana passada. Manifestantes indígenas impedem o trânsito de carros e veículos pesados na estrada que liga El Alto - cidade onde está o principal aeroporto do país - a La Paz. Sindicalistas da COB em El Alto também ameaçavam convocar uma greve geral de 24 horas.

O ministro de Interior, Saúl Lara, anunciou ontem que, se um bloqueio na estrada na área de Patorani - a 40km de Cochabamba, no centro do país - não for levantado por meio do diálogo, o governo estabelecerá uma ponte aérea para remover a população local. "Se não resolvermos isso pelo diálogo, vamos retirar as pessoas que sofrem injustamente por causa deste bloqueio selvagem", disse Lara.