Título: Ajuda oficial leva Embraer e Bombardier a trocar acusações
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2005, Economia, p. B8

Embraer e Bombardier elevam o tom das acusações mútuas. A empresa brasileira rejeita os argumentos da Bombardier de que estaria se aproveitando de seus contratos de defesa com governos para desenvolver novas tecnologias e, depois, implementá-las em jatos civis que concorreriam com os aviões da empresa canadense. Em declarações ao Estado, o presidente da Embraer, Maurício Botelho, afirmou que o argumento da Bombardier é "ridículo". Já a empresa canadense, que está sendo acusada pela Embraer de estar recebendo subsídios para o desenvolvimento de sua nova série de aviões, garante que a ajuda de seu governo não é ilegal. "Trata-se de um empréstimo", afirmou um dos vice-presidentes da empresa, Jahid Fazal-Karim, responsável pela área de vendas de jatos executivos. A empresa canadense está sendo acusada pelos brasileiros e até mesmo pelo governo americano de estar preparando a produção de uma nova linha de aviões com cerca de US$ 750 milhões em subsídios dos governos do Canadá e do Reino Unido. Além de negar que esses recursos seriam subsídios, a Bombardier alertou que não conta com um benefício que existe no caso da Embraer: os contratos de defesa.

Pela lógica da Bombardier, ao obter tais contratos, tanto a Embraer como a Boeing e a Airbus conseguem recursos para desenvolver tecnologias que depois podem ser transferidas para aviões civis, sem novos custos. Mas Botelho fez questão ontem de esclarecer a acusação.

Segundo ele, o que ocorre na Embraer é exatamente o contrário. "O que observamos é que a tecnologia que usamos em modelos civis acaba sendo transferida para aviões de uso militar", afirmou. De acordo com Botelho, um dos exemplos disso é o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). A Embraer fornece ao programa oito aviões que, de fato, foram desenvolvidos a partir de um jato civil da empresa e serve para o transporte de 50 passageiros. Além disso, Botelho esclarece que a Embraer conta com poucos contratos de defesa.

'EMPRÉSTIMOS'

Para o presidente da empresa brasileira, os argumentos da Bombardier servem apenas para tentar justificar para os contribuintes canadenses o dinheiro que estará saindo do tesouro do país para a construção de um novo avião. "Trata-se de uma tentativa de enganar o cidadão canadense, que provavelmente não receberá de volta o dinheiro que seu governo está passando para a Bombardier", acusou Botelho.

Mas os canadenses garantem que os recursos que poderão receber não podem ser caracterizados como subsídios. "Esses recursos são empréstimos e estamos certos de que estão de acordo com as regras internacionais", afirmou Leo Knaapen, porta-voz da empresa canadense.

"A Embraer tem sua avaliação sobre esses fatos, mas nós seguimos a lei e sempre vamos agir dessa forma", completou. Nos últimos anos, tanto a Bombardier comoa Embraer foram condenadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) por estarem vendendo jatos a preços subsidiados.