Título: Chávez ameaça romper relações com EUA
Autor: EFE, France Presse e Associated Press
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2005, Internacional, p. A10

CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse ontem que seu país romperá relações diplomáticas com os Estados Unidos se Washington não extraditar para a Venezuela "o assassino e terrorista" cubano naturalizado venezuelano Luis Posada Carriles, detido terça-feira em Miami. Embora tenha dito que esperará o prazo estipulado no tratado bilateral de extradição assinado em 1922 - que concede prazo de 60 dias para essa medida -, Chávez advertiu em seu programa dominical de rádio e televisão, Alô Presidente, que romperá relações com os EUA caso haja uma negativa de Washington.

"Será necessário avaliar se vale a pena ter uma embaixada aberta lá e eles terem uma aqui", afirmou, após dar um soco na mesa. "Embaixadas para quê, com um governo que descaradamente protege o terrorismo internacional?", perguntou. "É sumamente difícil ter relações diplomáticas assim. Se eles não extraditarem Posada Carriles no prazo fixado nos tratados, vamos colocar em revisão integral nossas relações diplomáticas com os EUA, porque não estamos dispostos a seguir...", acrescentou Chávez, sem terminar a frase.

"(Os EUA) são os gigantes da imoralidade, mas nós somos gigantes no aspecto moral e na dignidade", prosseguiu o presidente venezuelano, dando um novo soco na mesa. Ele estimou que os EUA "não têm a mínima intenção" de aceitar o pedido de extradição, mas insistiu: "Eles estão obrigados a isso."

A Venezuela, forte aliada de Cuba, solicitou a extradição de Posada Carriles para concluir o processo contra o anticastrista de 77 anos por envolvimento no atentado a bomba que derrubou em 1976 um avião da Cubana de Aviación, deixando 73 mortos. O processo estava em andamento quando Posada Carriles fugiu de uma prisão venezuelana em 1985.

As autoridades americanas, que detiveram Posada Carriles por violação das leis de imigração dois meses depois que ele entrou ilegalmente nos EUA, informaram que em 13 de junho será tomada uma decisão sobre o caso. Mas já indicaram não estar dispostas a enviar o acusado de terrorismo e ex-colaborador da CIA para a Venezuela ou para outro país aliado de Cuba.

Chávez afirmou ainda que seu governo poderá recorrer a à Organização dos Estados Americanos, à ONU ou a um tribunal internacional. "Tenho feito todo o possível como presidente para a extradição, mas devemos preparar-nos para acudir a um tribunal internacional", disse ele. "É preciso ir à OEA e acusar (os EUA) de violar a Carta demorática, é preciso ir à ONU."