Título: Idoso e ocupado. Não se pode só relaxar
Autor: Henry Fountain
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2005, Vida&, p. A12

NOVA YORK

Quando os Rolling Stones anunciaram a nova turnê mundial, causaram comentários sobre sexagenários, drogas e rock'n'roll. Mas embora Mick Jagger, que fará 62 anos em agosto, e Keith Richards, que completará 62 em dezembro, possam ser roqueiros envelhecidos, também são outra coisa: veteranos ativos. Não são diferentes de milhões de pessoas. Hoje, não se espera dos mais velhas que fiquem sentados numa cadeira de balanço e, sim, que façam coisas para as quais não tiveram tempo no passado - estudar italiano em Florença, digamos, ou participar de uma caminhada no Nepal, ou mesmo saltar de pára-quedas, como fez o ex-presidente George Bush no ano passado, em seu 80.º aniversário.

Mas os mais velhos precisam almejar o bungee jumping? Alguém com 62 anos - ou 72, ou 82 - não pode apenas relaxar? A sociedade gosta que seus cidadãos fiquem ocupados. Os pais estão sempre ansiosos; os filhos, superocupados. E hoje os mais velhas freqüentemente estão sujeitos à mesma pressão: não podem estar simplesmente aposentados, precisam estar super-aposentados.

Como as pessoas estão vivendo mais e ficando saudáveis por mais tempo, elas podem, claro, ter experiências com as quais só sonhavam na juventude. Mas não se trata só da opção de se manter ocupadas. A sociedade exige que elas o façam - para não ser apenas escoadouro de recursos e manter a aptidão física e mental. A pressão social também cresce. Sociólogos e gerontologistas descrevem uma "ética da ocupação", uma continuação da ética do trabalho que define a carreira de muita gente. Pessoas mais velhas sentem-se compelidas a dizer que estão se mantendo ocupadas, dizem os especialistas, como forma de defender o tempo ocioso de que dispõem.

David J. Ekerdt, do Centro de Gerontologia da Universidade de Kansas e autor, num ensaio de 1986, da expressão "ética da ocupação", disse que há uma expectativa de que a terceira idade seja preenchida por atividades. "A contemplação e a inatividade são altamente suspeitas ao longo da vida." Ele contou que, quando entrevistava casais aposentados para a pesquisa, "as mulheres manifestavam consternação com os maridos, dizendo: 'Ele só fica sentado e lê o dia inteiro'". Isto dificilmente pareceria uma queixa hoje.

Toda essa atividade, porém, torna algumas pessoas indiferentes. O que houve com a idéia da terceira idade como época de gradual desengajamento, de contemplação de uma vida bem vivida? Uma pessoa que envelhece precisa estar sempre em movimento, desafiando mente e corpo? Um certo grau de titubeio não é permitido? "Odeio pessoas que dizem 'agora estou indo para a universidade, vou praticar bungee jumping e fazer sexo até os 80'", disse Virginia Ironside, que tem uma coluna de aconselhamento no jornal londrino The Independent. "Agora é hora de relaxar. Pratiquei bungee jumping até ficar azul, metaforicamente." Ironside, de 60 anos, disse ter sentido pouca necessidade de grandes estímulos mentais à medida que envelhecia. "Não quero manter meu cérebro especialmente ativo. Gostaria de perder tempo." Mas seu conceito de velhice é claramente antiquado.

Segundo James H. Hinterlong, da Universidade Estadual da Flórida, antigas teorias diziam que "o envelhecimento saudável era caracterizado pelo afastamento de atividades significativas". Ele explicou que "isto era considerado bom não só para a pessoa, mas também para a sociedade", pois abria o caminho para que os mais jovens assumissem atividades e papéis. Essa teoria acabou descartada, disse, à medida que os gerontologistas perceberam que muitas pessoas mais velhas gostavam de continuar ativas.

Mesmo essa visão mudou à medida que o tempo de vida cresceu. "As pessoas costumavam considerar qual seria o legado dos mais velhos. Então perceberam que muitos idosos tinham anos bons pela frente e parte desse legado ainda poderia ser estabelecida."

Não é só o dinheiro que motiva Jagger e Richards - e Charlie Watts, de 63 anos, e Ron Wood, de 57 - a continuar se apresentando. "Isso é o que eles sabem fazer", disse Nancy Morrow-Howell, da Universidade de Washington em St. Louis. "E vão continuar fazendo." Também nesse sentido eles não são diferentes de muitos idosos. Os que estudam o envelhecimento dizem que os padrões de comportamento normalmente não mudam só porque elas ficam mais velhas. Uma pessoa de 70 anos não acorda um dia e decide escalar o Everest; o provável é que ela tenha sido aventureira a vida toda.

"As pessoas são quem são durante o curso inteiro de suas vidas", disse Morrow-Howell. "Pessoas que são realmente ativas vão querer continuar ativas." Hinterlong observou que, em fases anteriores, as atividades de muitas pessoas, sobretudo seu trabalho, são definidas por outras. Assim, para elas, a terceira idade "é um período no qual elas podem exercer controle sobre suas vidas".