Título: Prestações a perder de vista aumentam o risco de calotes
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2005, Economia, p. B1

A reação dos varejistas de alongar prazos para compensar o arrefecimento no ritmo de crescimento das vendas financiadas é arriscada. Se o Banco Central continuar elevando juros para atingir a meta de inflação e a atividade econômica continuar perdendo fôlego, o risco de inadimplência deve aumentar, advertem especialistas. Primeiros sinais de alerta sobre o aumento do calote começaram a aparecer. Pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostra que em abril, pela primeira vez desde 2004, o índice de carnês em atraso cresceu num ritmo superior ao dos carnês inadimplentes renegociados. Na primeira quinzena do mês a tendência se confirmou. Até o dia 15, o volume de carnês inadimplentes foi 18,9% maior ante o registrado em igual período de 2004. O número de crediários recuperados subiu 13,8%. ¿A inadimplência já pode ter mudado de rumo¿, diz o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Ele pondera que o patamar está longe de marcas históricas, porém a alteração de rota é significativa. O fato de o ritmo de crescimento de carnês com prestação em atraso ter sido superior aos crediários recuperados indica que a inadimplência líquida voltou a subir.

A inadimplência líquida é o saldo obtido entre o volume de carnês em atraso e os carnês renegociados em relação às vendas a prazo de três meses atrás. No mês passado, esse indicador atingiu 7,7%, ante 6,4% em abril de 2004 e em março de 2005. A inadimplência líquida de abril foi a maior obtida para o período desde 2002.

¿Os números não são alarmantes¿, pondera Alfieri. Em abril de 1999, logo após a desvalorização do real, a inadimplência líquida atingiu 20,2% e houve quebradeira no setor. O que preocupa agora também é que as vendas a prazo dão claros sinais de desaceleração. Números da ACSP mostram que as consultas para o crediário, que cresciam 6,3% no primeiro quadrimestre em relação a igual período de 2004, aumentaram 5,7% na primeira quinzena deste mês na comparação anual.

Há varejistas que confirmam o aumento da inadimplência. Nas Lojas Cem, a perda do crediário já preocupa. Em dezembro, estava em 4% dos créditos a receber e hoje subiu para 4,5%. Há um ano, o indicador estava em 3%. ¿Acendeu o sinal de alerta¿, diz o supervisor-geral, Valdemir Colleone.

Para reduzir esse risco, a rede está mais criteriosa na aprovação do crédito. Começou a exigir entrada no crediário em casos que julga necessário. Ao contrário da concorrência, a empresa manteve os prazos dos financiamentos.

Já o diretor Administrativo-Financeiro das Casas Bahia, Michael Klein, não registrou acréscimo na inadimplência. A perda da rede está estabilizada em 8,5% das vendas financiadas. Para ele, a inadimplência não preocupa. Por isso, a rede optou por alongar prazos porque não trabalha com cenário de retração no nível de emprego. Para o diretor-executivo Comercial do Ponto Frio, Luiz Duarte, a inadimplência está ¿controlada até certo ponto¿. Apesar de a rede ter adotado prazos mais longos, está atenta. ¿Não se sabe o que pode acontecer.¿