Título: Aposentadorias são alvo de atravessadores
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2005, Nacional, p. A6

PRESIDENTE SARNEY - F. J. S., de 60 anos, do Assentamento Fazenda Galo, na zona rural de Presidente Sarney, conseguiu a aposentadoria rural há quatro meses. Somente há um mês, no entanto, ela detém o cartão da Caixa que lhe permite receber mensalmente um salário mínimo. Nos três primeiros meses, uma pessoa da comunidade e suplente da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município ficou com o cartão, recebia o dinheiro e ficava com a metade. "Aceitei o trato porque pelejava há muito tempo pela aposentadoria", afirmou a agricultora, que garante que sua documentação estava correta e se encontrava em dia com o sindicato. Ela vive com 8 dos 12 filhos na parcela de terra onde mandioca, milho, arroz e feijão são cultivados para consumo da família e ajudar nas despesas.

O caso da agricultora é um exemplo da exploração decorrente da falta de oferta de emprego e criação de renda no município. O dinheiro "certo" dos aposentados termina se tornando alvo de "atravessadores", que se propõem a encaminhar o pedido de aposentadoria em troca de algum pagamento.

A secretária-geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Josebel Dagmar Souza Ferraz, garante que a iniciativa denunciada pela agricultora foi alheia ao sindicato, que condena a prática e não se beneficiou da "partilha". Somente no ano passado, o sindicato encaminhou e conseguiu 225 benefícios da Previdência. Do total, 85 eram aposentadorias e o restante, pensões, auxílio-maternidade e auxílio-doença, entre outros.

Não há dados gerais sobre o número de agricultores aposentados pela Previdência. De acordo com os dados do IBGE, em 2003, dos 13.718 habitantes de Presidente Sarney, 1.064 tinham 60 anos ou mais.

OCUPAÇÕES

É com a aposentadoria rural que Maria de Jesus Fonseca, de 70 anos, sustenta a mãe doente, dois filhos e seis netos. A casa onde ela vive, na zona urbana, foi construída pelos filhos, que moram em Macapá.

O coordenador de política sindical do recém-criado Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar, Natalino Souza dos Santos Júnior, acredita que a saída para os trabalhadores é se unir a entidades como Comissão Pastoral da Terra (CPT) Caritas e começar a ocupar terras, cobrando reforma agrária, crédito do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) e buscando melhoria de vida para os agricultores, quebradeiras de coco babaçu e extrativistas.

"É muito difícil viver aqui, um lugar remoto, pobre", diz Natalino. "Não podemos ficar submissos, acomodados."