Título: PT recomenda que não assinem CPI
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2005, Nacional, p. A8

Com uma proposta de resolução política recheada de ataques ao PSDB e ao PFL e pedindo mudanças na política de juros altos do Banco Central, o Diretório Nacional do PT aprovou documento ontem recomendando a seus parlamentares que não assinem o pedido de criação da CPI para investigar suspeitas de corrupção nos Correios. Mas a parte do texto proposto pelo Campo Majoritário, grupo de tendências moderadas que controla o partido, pedindo a parlamentares que já assinaram o pedido de CPI que retirassem seu apoio foi suprimida, numa demonstração de fragilidade do governo e do comando petista. A resolução repete argumentos usados no governo FHC com o mesmo objetivo: a suspeita já estaria sendo investigada, o que dispensaria investigação parlamentar. Não fala nem em fechamento de questão nem em punir quem o violar. Paradoxalmente, apesar de marcado pelo tom agressivo contra tucanos e pefelistas, propõe um pacto entre governo, partidos e Congresso. "Não estamos tomando resolução de fechamento de questão", disse o presidente nacional da legenda, José Genoino. "Estamos tomando uma resolução de orientação política. Antes da votação, ele repetiu que o partido pediria que os petistas que apoiaram o requerimento retirassem suas assinaturas." Segundo ele, "o que está em jogo é uma disputa radicalizada com setores da oposição mais interessados em impedir os avanços do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que em fazer investigação." Genoino afirmou que todas as denúncias têm sido apuradas pelo governo Lula, no qual, afirmou, os casos de corrupção diminuíram, em comparação à administração anterior.

A discussão da proposta do Campo Majoritário - aprovada por 47 votos, contra 19 para a apresentada pelo grupo Articulação de Esquerda, 2 para a da tendência O Trabalho e duas abstenções - dividiu o partido, irritou sua esquerda e constrangeu até petistas moderados, como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que não querem atingir o governo, mas acham necessária a CPI. "Como foram flagrados elos com parlamentares, é preciso haver participação do Congresso nas investigações", disse.

O deputado Chico Alencar (PT-RJ) foi direto: "Fronteira política se discute e pode se alargar; fronteira ética é intransponível", disse, defendendo "CPI focada". O dirigente petista Romênio Pereira fez comentário sombrio. "Em seis anos de Diretório, nunca vi uma nuvem tão forte", disse. Até o início da noite, os dirigentes petistas ainda discutiam emendas ao texto.

OPOSIÇÃO

A resolução, no texto originalmente proposto pelo Campo Majoritário antes de ser emendado, reconhece o direito da oposição de propor CPIs, mas diz que, no caso dos Correios, o PT entende que todas as medidas necessárias para punir os culpados foram tomadas. "O PT estará atento a todas as investigações e exigirá, estabelecida a culpa, a punição dos envolvidos. Neste contexto, de garantia de ampla investigação pelos órgãos adequados, o PT entende que, neste momento, uma CPI é desnecessária. Por isso, orienta seus deputados e seus senadores para que não endossem a convocação da CPI."

Segundo o texto original, se a CPI "for necessária e vier a ser instalada", o PT lutará para que não se transforme "num palanque para a demagogia e num instrumento para atacar e inviabilizar o governo e paralisar os trabalhos no Congresso". "Não estamos fazendo operação abafa", disse Genoino.

"Convém lembrar quer no governo do PSDB e PFL aconteceram grandes escândalos", diz o texto. "Basta lembrar os mais graves: a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, o escândalo das fitas do BNDES nas privatizações das teles, o caso Eduardo Jorge e Sivam (...) Com este histórico desabonador, não convém que setores de oposição posem de arautos da defesa de investigações parlamentares", ataca.