Título: Dirceu diz que CPI 'beira golpismo'
Autor: Fausto Macedo e Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2005, Nacional, p. A9

José Dirceu, ministro da Casa Civil, declarou ontem que "a partir do Congresso estão querendo instalar uma crise artificial para desestabilizar o governo". Preocupado com o avanço da proposta de instalar a CPI dos Correios e irritado com informação publicada pela revista Veja, de que teria comentado que o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, e o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, não resistiriam a uma investigação sobre corrupção, ele reagiu e falou de golpismo: "Se vão fazer CPI sobre Correios, o Congresso decida e faça. Agora, essa tentativa de me envolver, de envolver os companheiros, envolver outras estatais, tem outro caráter. Chega a beirar o golpismo. Porque é uma radicalização da vida político-institucional do País desnecessária. Porque tem democracia neste País, o governo sabe perder." "A natureza da questão é outra", insistiu. "É uma tentativa, primeiro, de nos intimidar; segundo, de paralisar o governo; terceiro, de nos chantagear."

O ministro ressaltou que o Congresso é soberano para abrir ou não a CPI dos Correios, mas avisou: "Não peçam a nós que apoiemos uma CPI com esse caráter, porque a CPI foi pedida para fazer investigação nos Correios e, no outro dia, já era sobre as estatais. Ora, por que uma CPI nas estatais? O verdadeiro caráter da CPI é para desestabilizar. Querem desestabilizar o governo a partir do Congresso, a partir das dificuldades do governo e dos nossos erros na Câmara."

SÃO PAULO

Ele criticou o PSDB, a quem atribuiu "autoritarismo e a destruição de 1 milhão de empregos e da máquina pública". Para Dirceu, a "CPI das estatais precisa ser feita em São Paulo". Munido de um dossiê com dados sobre orçamento e desempenho do governo Geraldo Alckmin, o ministro declarou: "Que autoridade tem o senhor Alckmin para falar que existe crise institucional no País e que há nomeações políticas nas empresas estatais? Ah, em São Paulo as nomeações não são políticas... O PSDB e o PFL governam São Paulo e os outros partidos não indicaram ninguém... É hipocrisia. O que estão querendo é nos tirar o direito de governar."

Em seguida, analisou a situação das empresas estatais de São Paulo. "Para refrescar a memória, o governo federal fez dois empréstimos para a Cesp, de R$ 650 milhões e de R$ 1,2 bilhão em 2003 e 2004, e a Cesp está pedindo R$ 2 bilhões. Tem uma dívida de R$ 11 bilhões, só no ano de 2005 vencem R$ 2,844 bilhões."

Dirceu dividiu a reação à CPI e os ataques aos tucanos em duas etapas. De manhã, diante de 150 vereadores paulistas do PT, reunidos em Embu das Artes, na Grande São Paulo, ele admitiu corrupção em setores da administração, mas afirmou que o governo combate com determinação os corruptos. Reconheceu problemas no partido e "problemas graves no governo", mas ressaltou que isso não quer dizer crise institucional.

À tarde, na reunião do diretório nacional do partido, em São Paulo, disse que os adversários querem, com a CPI dos Correios, antecipar a disputa eleitoral de 2006 e tirar do partido o "direito de governar". E avisou: "Não vamos deixar nos intimidar. A oposição quer ganhar no grito. Os partidos que apóiam o governo e o PT não podem apoiar essa CPI. Se quiserem apoiar, é um direito legítimo de cada deputado, de cada senador. Mas a CPI ganhou um caráter que visa a desestabilizar irresponsavelmente o País. Não é porque tem uma corrupção nos Correios que podem falar em crise institucional, que podem falar em pânico no governo. Estamos vivendo uma tentativa de criar uma crise. CPI é uma questão do Congresso, o governo não vai se envolver."

Enfático, declarou: "O governo vai continuar governando, não vamos nos envolver, não vamos deixar o governo ser envolvido, nem vamos aceitar que existe crise institucional no País. Tem gente que quer viver de ilusão." Depois, reconheceu: "Isso não quer dizer que não haja insuficiências, erros e problemas graves no governo federal e no Brasil. O governo tem o desafio de melhorar a gestão, combater a corrupção, desperdícios e fraudes."