Título: Mais de 60% das fábricas operam só em um turno
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2005, Economia, p. B1

Mais da metade das indústrias paulistas trabalha com apenas um turno de oito horas de produção, revela pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Isso indica que existe um espaço grande para ampliar a oferta de produtos sem muitos investimentos, apenas com aumento de pessoal. As fábricas podem operar com até quatro turnos. Entre as mil empresas pesquisadas pela Fiesp, 62% trabalham com um único turno. De acordo com a pesquisa, 19% das empresas entrevistadas trabalham com dois turnos e outras 19% com três ou quatro turnos. Na média, a indústria paulista opera atualmente com 1,6 turno.

As entrevistas foram feitas entre 15 de abril e 5 de maio. Foram ouvidas empresas de todos os portes que atuam nos variados ramos da indústria.

Nada menos do que 24% das empresas informaram que operam com ociosidade de 50% ou mais. Já no outro extremo, 22% disseram que trabalham quase que a plena carga, utilizando de 80% a 100% da sua capacidade instalada.

A Metalúrgica Schioppa, maior fabricante de rodas e rodízios da América do Sul, trabalha hoje com quatro turnos e utiliza 75% de sua capacidade instalada. "Estamos aptos a atender o que o mercado pede", afirma Rogério Madegam, gerente industrial da empresa. "Temos condições de ampliar a produção em 50% com poucos investimentos."

As rodas e rodízios fabricados pela Schioppa são usados em vários setores, incluindo móveis, hospitais, indústrias, frigoríficos e supermercados. A empresa produziu cerca de 4 milhões de peças em 2004, volume 30% maior que o do ano anterior. Nos quatro primeiros meses deste ano, a demanda cresceu 20%.

Na Takata-Petri, fabricante de volantes de direção, air bags e cintos de segurança automotivos, a situação não é diferente. Líder de vendas de volantes no País, com 85% desse mercado, a empresa opera com três turnos e usa 80% da capacidade de produção.

"Tivemos de recorrer ao uso de horas extras para aumentar a produção em 10% este mês, para atender a demanda do mercado, que está bastante aquecida", diz Rodrigo Agnew Ronzella, gerente jurídico da Takata-Petri. A empresa emprega 840 pessoas no País e tem faturamento anual de R$ 250 milhões. A Takata Corporation, sediada em Tóquio, no Japão, é composta por 56 empresas, com 45 fábricas no mundo. Três delas estão no Brasil - a matriz em Jundiaí (SP), Piçarras (SC) e Mateus Leme (MG).

No setor de bens de capital, a Confab Industrial também vive um bom momento. A empresa, que produz tubos de aço com costura, cuja principal aplicação é o transporte de gás e petróleo, trabalha com 70% da capacidade instalada em três turnos.

TIRO NO PÉ

"Estamos passando por uma época boa, com obras importantes com a Petrobrás na área de gás", diz o gerente industrial, Almir Marroco. "Se necessário, podemos ampliar a produção em torno de 30%."

O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini, diz que a rapidez da resposta das indústrias ao crescimento da demanda faz parte da própria atividade empresarial.

"As empresas têm faro para encontrar demanda e capacidade acurada para correr atrás dela. Deixar de atender à demanda é o mesmo que dar um tiro no pé: perdem dinheiro e participação no mercado", afirma Francini.