Título: Indústria pode dobrar a produção
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2005, Economia, p. B1

A indústria tem condições de dobrar sua produção em poucos meses e sem grandes investimentos, o que evitaria o risco de um eventual desabastecimento do mercado e aumento de preços, na hipótese de um crescimento forte da demanda. Esta é a conclusão de uma pesquisa inédita da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que põe em xeque um dos principais argumentos usados pelo Banco Central (BC) para justificar a alta contínua das taxas de juros. A Fiesp ouviu cerca de mil indústrias paulistas e avaliou os instrumentos que elas têm à disposição para atender a um eventual aumento de demanda no curto prazo. Com a ampliação das horas extras, teriam um ganho direto de 18,8%, em média, no volume produzido. Fazendo uso de turnos adicionais, a produção pode crescer 28,8%.

Outro instrumento citado passa pela eliminação de gargalos ou ampliação de linhas, o que poderia alavancar a produção em 28%, no prazo de cinco meses. "E isso não custa caro", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp.

De acordo com a pesquisa, os custos para a eliminação de gargalos situam-se em média em 26% do faturamento mensal das empresas. Para a ampliação de setores na produção, a proporção é de 48%.

Para chegar aos números sobre ganhos de produção, a pesquisa considerou sempre o período de maior utilização da capacidade instalada das empresas nos últimos 12 meses, que na média foi de 82,1%. Hoje, essa média está em 67,5%. Isso significa que as fábricas ainda poderiam ampliar o uso da sua capacidade em 21%, em média, para atingir esse pico.

Francini explica que as taxas de crescimento de produção obtidas com esses fatores não podem ser acumuladas, para evitar sobreposições. Mesmo assim, a estimativa é de que esse porcentual ficaria entre 50% e 100%.

"Os valores são muito maiores do que os imaginados até agora, principalmente por quem tem uma visão estática do processo de produção", diz o empresário. Francini refere-se aos dirigentes do BC.