Título: Viagem de Lula à Ásia pode render US$ 1,5 bilhão
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2005, Economia, p. B5

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parte hoje para uma visita a dois países com os quais o Brasil tem grandes chances de fechar negócios, a Coréia do Sul e o Japão. A expectativa é que sejam assinados seis contratos empresariais, no valor de US$ 1,5 bilhão, nas áreas de energia e infra-estrutura. A ida a esses dois importantes mercados entra com atraso na agenda de Lula. Ele preferiu, antes, visitar países com comércio praticamente nulo com o Brasil, como os países africanos visitados neste ano. Em paralelo à agenda oficial, o presidente Lula e pelo menos sete ministros terão seis encontros empresariais em Seul e em Tóquio, com foco no aumento das exportações brasileiras e na atração de investimentos em áreas produtivas e em obras de infra-estrutura. Em torno de 200 empresários brasileiros irão às duas capitais e se somarão aos 300 homens de negócio de cada país visitado em seminários e reuniões de trabalho.

Na avaliação do Itamaraty, as relações entre o Brasil e o Japão atingiram um alto nível até o fim dos anos 80, mas submergiram em letargia depois da moratória brasileira, em 1987, e do crescente interesse japonês pela sua vizinhança na Ásia. No caso da Coréia do Sul, há grande sinergia com o Brasil nas áreas de ciência e tecnologia e na produção de eletroeletrônicos, mas pouco conhecimento dos respectivos mercados. Para o embaixador Edmundo Fujita, diretor do Departamento de Ásia e Oceania do Itamaraty, a visita presidencial deverá dar um novo impulso ao relacionamento do Brasil com as duas economias orientais.

Entre os integrantes do governo, alguns remoem autocríticas pelo atraso nessas visitas oficiais. A viagem ao Japão e à Coréia do Sul, avaliaram, deveria ter ocorrido logo no primeiro ano do governo e jamais depois de uma visita oficial à China - um sinal percebido em Seul e em Tóquio, em especial no meio empresarial. Lula esteve em Pequim e Xangai em maio do ano passado. Na avaliação desses assessores, o Palácio do Planalto deveria, conseqüentemente, ter se antecipado à vinda ao Brasil dos líderes dessas duas economias. Não foi o que aconteceu. O primeiro-ministro Junichiro Koizumi, do Japão, veio ao Brasil em setembro passado e o presidente Roh Moo-Hyun, da Coréia, em novembro.

O circuito dessa semana terá objetivos claros. Na Coréia, o governo brasileiro pretende abrir uma frente de cooperação nas áreas de ciência, tecnologia e de educação, valendo-se da experiência que possibilitou um salto na economia coreana e no grau de desenvolvimento humano do país. No que diz respeito aos negócios, o foco estará na possibilidade de aumento dos embarques brasileiros e de parcerias nas áreas de alimentos processados e de tecnologia da informação.

No caso do Japão, além desses dois setores, há expectativas de avanço nas negociações para exportação de álcool anidro. O Japão aprovou uma lei autorizando a mistura de álcool na gasolina, como uma medida para reduzir a poluição e enquadrar-se no Protocolo de Kioto. Já a chance de o Japão eliminar as barreiras comerciais à carne bovina brasileira é praticamente nula. Os japoneses não compram carne de países que utilizam vacina para controlar a aftosa e de pouco adiantou mostrar a Koizumi, durante sua visita ao Brasil, que alguns Estados brasileiros livres de aftosa são maiores do que muitos países da Europa.

As travas ao ingresso da manga fresca, derrubadas no ano passado, exigiram 27 anos de negociações. Ainda assim, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, acredita que esse foi um primeiro passo e que a derrubada de restrições sanitárias para outros produtos brasileiros agora ficará menos difícil - o que não quer dizer que haja decisões para já.

Os desejados investimentos em setores produtivos e em infra-estrutura serão tratados de forma cuidadosa pelo próprio presidente Lula, que deverá repetir em Seul, no dia 25, e em Tóquio, no dia 27, a fórmula dos encontros com grupos de cerca de 15 megaempresários realizados em Davos e em Genebra, na Suíça, e em Nova York. O presidente terá o amparo dos ministros Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Paulo Bernardo (Planejamento) e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Nesses encontros, o presidente e seus ministros deverão ser questionados diretamente sobre as condições e as perspectivas macroeconômicas do País e sobre a legislação sobre investimentos. Para o governo, será a oportunidade de esmiuçar a política industrial, tecnológica e de comércio exterior e as regras das Parcerias Público-Privada (PPP).

No caso da Coréia, haverá ainda um esforço especial para reverter a decisão da siderúrgica Posco de investir na construção de uma usina na Índia, em detrimento da outra opção em estudo, o Maranhão. Como atrativo, o governo deverá utilizar a "MP do Bem". Ela prevê que investimentos eminentemente voltados para a exportação, como o da Posco, poderão ser feitos sem que se recolha a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e para o Programa de Integração Social (PIS) sobre as máquinas e equipamentos necessários.