Título: Esquema tem ligação com desvio na Saúde, diz PF
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2005, Nacional, p. A2

A Polícia Federal descobriu que o envolvimento do ex-chefe do Departamento Contratação dos Correios Maurício Marinho com propinas é uma das ramificações de um grande esquema de corrupção detectado no Ministério da Saúde, no ano passado, com a Operação Vampiro. O elo principal é o lobista Romeu Amorim, que aparece intermediando um contrato de venda de tecidos para os Correios, mas tem ligações com outros dois personagens envolvidos em licitações e vendas suspeitas para o Ministério da Saúde e o Exército. A Polícia Federal gravou conversas entre Amorim e outro lobista, Francisco Danubio Honorato, representante da ABC Data, empresa que pertencia a um dos principais acusados na Operação Vampiro, Jaisler Jabour, na qual os dois tratam de licitação para um contrato com os Correios. Na casa de Amorim, em Brasília, a polícia encontrou a resposta a uma carta-convite de venda de tecidos redigida antes da publicação do edital de licitação aberto pelos Correios. Honorato e Amorim foram ouvidos em maio e junho do ano passado, época em que Maurício Amorim assumia o cargo na ECT.

A revelação provocou a abertura de dois novos inquéritos na Polícia Federal, ambos em andamento. Um investiga o caso dos Correios e outro a compra de tecidos para confecção de fardas para o Exército, onde se suspeitou que havia irregularidades no processo de licitação. Intimado duas vezes, o coronel aposentado Augusto Matias Tabosa, um dos supostos responsáveis pela compra, não compareceu à Polícia Federal. Romeu Amorim admite, em depoimento, ter conversado com o coronel, mas nega que um depósito de R$ 7 mil na conta da mulher do oficial, no ano passado, pela empresa Multi Brasil, tenha tido alguma relação com propina.

A Polícia Federal está fazendo um cruzamento de todas as informações levantadas durante a Operação Vampiro para fundir com o inquérito aberto para apurar o escândalo nos Correios.

Há suspeitas de que a ABC Data possa ter sido usada por integrantes do mesmo grupo para lavar dinheiro de propina arrecadado por meio de venda de medicamentos e material para outras áreas do governo federal. Os indícios apontam que o mesmo grupo pode estar por trás de venda de material para outros órgãos públicos, cujos nomes aparecem nas investigações que detectaram fraudes nas licitações de remédios para o Ministério da Saúde.

Policiais e procuradores designados para apurar o escândalo dos Correios começam a ouvir, na semana que vem, os personagens que estão aparecendo.

A polícia suspeita que a gravação de vídeo em que Maurício Marinho aparece recebendo propina foi feita por dois arapongas, mas deverá intimar o coronel aposentado José Celso Fortuna dos Santos Neves, lobista de uma das empresas que perdeu uma das concorrências para venda de material aos Correios.