Título: Comissões podem sair da gaveta e virar palanque eleitoral de mão dupla
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2005, Nacional, p. A8

A abertura da CPI dos Correios pode provocar uma onda de novas comissões, com caráter eleitoral. Governistas temem que a CPI dos Correios se transforme num palanque para a oposição criticar e devassar a gestão do presidente Lula, tentando enfraquecer sua campanha pela reeleição. Em troca, tucanos acham que os governistas planejam ressuscitar a CPI do setor elétrico, que se arrasta sem funcionamento desde o ano passado, apenas para bater na gestão do ex-presidente Fernando Henrique. Há mais CPIs com conteúdo eleitoral potencial a caminho. Em Minas, por exemplo, os petistas esperam minar o prestígio do governador Aécio Neves, um dos nomes cotados no PSDB para a candidatura presidencial em 2006.

A situação deve ficar mais complicada no Congresso, já que o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), quer desenterrar vários pedidos de CPI. "Se todo mundo se acusar e uns tiverem culpa e outros não, a iniciativa será válida", justificou. "O PSDB é favorável à apuração de todas as privatizações do governo FHC, não apenas no setor elétrico. É bom que a Câmara faça a apuração sobre o que quiser. Nós também faremos CPI sobre o que quisermos. E não abriremos mão de investigar Waldomiro Diniz e os Correios. Não vamos trocar favores."

Virgílio anunciou que o PSDB já apresentou seus nomes para integrar as CPIs que sugeriu, para investigar Waldomiro Diniz, flagrado em vídeo pedindo propina, e as privatizações do governo FHC. As duas CPIs não foram instaladas porque a maioria dos partidos não indicou integrantes.

A senadora de Alagoas Heloísa Helena (PSOL) defendeu a criação da CPI dos Correios com argumento de que a função de uma comissão parlamentar de inquérito é fiscalizar os atos do Executivo. "A CPI é tão importante que a Constituição delega ao Senado poder de investigação próprio das atividades judiciárias", afirmou.

Na tribuna, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) criticou a operação do governo para convencer parlamentares a retirar seu apoio à CPI dos Correios. "Agora dizem que o governo vai tomar providências sobre o caso dos Correios, mas com que autoridade? Uma CPI existe quando há um fato que não está sendo investigado."