Título: Ordem do Planalto é esvaziar CPI só no último minuto
Autor: Eugênia Lopes, João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2005, Nacional, p. A10

Os parlamentares da base aliada vão deixar para o último minuto, terça-feira à noite ou quarta-feira pela manhã, a retirada das assinaturas no requerimento de criação da comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Câmara e do Senado destinada a investigar suposto esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Essa estratégia para barrar a CPI está sendo montada pelo Palácio do Planalto com líderes e presidentes de partidos aliados. A ordem do governo é para ninguém retirar a assinatura nas próximas horas. Ontem um deputado - Robério Nunes (PFL-BA) - aderiu ao pedido de CPI. No total, são 218 assinaturas de deputados, das quais metade pertence a aliados. No Senado o quadro permanece estável, com 49 assinaturas.

O governo não quer desgastar deputados e senadores da base que assinaram o pedido de criação da comissão e, por isso, a retirada do apoio será feita momentos antes da sessão em que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lerá o requerimento da CPI em plenário. A sessão está marcada para quarta-feira, às 10 horas. "É possível reverter (a processo de abertura da CPI) e tirar as assinaturas até quarta. O governo está tranqüilo", afirmou ontem o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Para ser bem-sucedido na estratégia de inviabilizar a CPI dos Correios, o governo terá de fazer com que, pelo menos, 50 deputados retirem suas assinaturas. São necessárias, no mínimo, 171 assinaturas de deputados e 27 de senadores para a abertura de CPI mista. Ontem, havia 47 assinaturas a mais do que o mínimo necessário de deputados e 22 a mais de senadores. Os líderes da base aliada estão conscientes de que a oposição está fazendo "um fundo de reserva" com assinaturas de deputados para apresentar à Mesa do Congresso momentos antes da sessão marcada por Renan.

A ação do governo para a retirada das assinaturas está voltada para Câmara. A avaliação é que a adesão dos deputados à CPI do Correios cresceu velozmente com o discurso do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), que acabou insuflando companheiros de Câmara a assinar o pedido de CPI.

"Conseguir tantas assinaturas em um só dia é algo inusitado", observou Chinaglia.

"O fato de o deputado Roberto Jefferson assinar o pedido de CPI soou como uma liberação para que os outros deputados da base também assinassem. Mas na minha opinião é uma missão impossível conseguir tirar tantas assinaturas até quarta-feira", ponderou o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). "É imprevisível o destino da CPI. Só vamos ter idéia do quadro na terça-feira à tarde", completou o líder do PSB na Câmara, deputado Renato Casagrande (ES).

Apesar da confiança dos governistas em conseguir barrar a CPI, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), está certo de que a comissão será instalada. "É inevitável a criação da CPI", afirmou o tucano. O senador Pedro Simon subiu ontem à tribuna para questionar a autoridade do governo em solicitar a aliados a retirada de assinaturas do pedido de CPI. "Agora dizem que o governo vai tomar providência no caso dos Correios, mas com que autoridade? Se na hora do Waldomiro tivessem apurado o que ocorreu, ótimo. Mas CPI existe quando há fato que não está sendo investigado", disse.

Caso seja instalada, a CPI dos Correios será integrada por 16 deputados e 16 senadores. O PT quer ficar com a relatoria, que será dada a deputado. A presidência caberá, então, ao bloco de oposição (PFL e PSDB) do Senado.