Título: Fidel expulsa europeus e irrita UE
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2005, Internacional, p. A24

O regime cubano liderado por Fidel Castro intensificou na quinta-feira à noite uma onda de expulsões de parlamentares, ativistas de direitos humanos e jornalistas estrangeiros que haviam chegado ao país nos últimos dias para participar do congresso dissidente promovido pela Associação de Promoção da Sociedade Civil (APSC). Entre os expulsos nas últimas horas estão os eurodeputados poloneses Jacek Protasiewicz e Boguslaw Sonik, o senador checo Karl Schwarzenberg, o deputado alemão Arnold Vaatz, as ex-deputadas espanholas Isabel San Baldomero e Rosa López Garnica e o jornalista italiano Francesco Battistini. Todos estavam em Cuba com visto de turista para atuar como observadores do encontro. O congresso de dois dias foi aberto ontem com pouco mais de 200 participantes (ler abaixo). Na Europa, as expulsões causaram protestos de vários governos europeus e pressões de partidos conservadores para que sejam adotadas medidas mais duras contra o regime cubano. A Comissão Européia, órgão executivo da União Européia disse que o incidente representa "um forte elemento de tensão".

Itália, Espanha e República Checa convocaram os embaixadores cubanos em suas respectivas capitais para protestar formalmente contra as expulsões. Em Roma, o ministro das Relações Exteriores, Gianfranco Fini, pediu explicações à embaixadora cubana María de los Angeles Flores Prida sobre a situação de Francesco Battistini, que viajou para Cuba como enviado especial do jornal de Milão Corriere della Sera. O jornal informou Fini que Battistini estava detido numa cela do aeroporto de Havana enquanto aguardava sua expulsão.

Na Alemanha, o ministro de Relações Exteriores, Joschka Fischer, qualificou de inaceitável a ação do governo cubano. "É legítimo e está subentendido que os parlamentares alemães e os demais europeus que visitam Cuba têm o direito de se encontrar com grupos da oposição e de defesa direitos humanos", declarou Fischer.

Ao mesmo tempo, a União Democrata-Cristã (CDU, conservadora), principal partido da oposição na Alemanha, exigiu do governo de Gerhard Schroeder a "correção" da política em relação a Cuba. "Está provado que o silêncio não funciona", afirmou o porta-voz da CDU para a política externa, Friedbert Pflueger. Segundo ele, com a expulsão dos parlamentares, "o regime cubano mostra sua verdadeira face".

Além do forte assédio do regime cubano, a reunião também atraiu pesadas críticas de outros grupos da dissidência interna. O líder do Movimento Cristão Libertação (MCL), Oswaldo Payá, ganhador do Prêmio Sakharov de 2004, concedido pelo Parlamento Europeu, qualificou o congresso de "uma farsa", promovida com a cumplicidade dos das forças de segurança cubanas para justificar a intensificação da repressão aos opositores.