Título: Pesquisa coreana não é permitida no Brasil
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2005, Vida &, p. A28

A pesquisa feita pelos coreanos é diferente da que foi autorizada este ano no Brasil pela Lei de Biossegurança. A legislação nacional autoriza apenas as pesquisas com embriões humanos produzidos por fertilização in vitro que estejam congelados há mais de três anos nas clínicas de reprodução humana. A clonagem terapêutica, realizada pela equipe de Woo Suk Hwang, é proibida. Ela envolve a obtenção de células-tronco pela produção de novos embriões, clonados das células dos próprios pacientes. "Enquanto o resto do mundo fica questionando, eles estão fazendo", disse a geneticista brasileira Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo - uma das muitas que esperam trabalhar com células-tronco embrionárias a partir deste ano. O estudo coreano publicado ontem, segundo ela, será o marco histórico da clonagem terapêutica, assim como a ovelha Dolly foi para a clonagem reprodutiva de animais adultos. "Eles mostraram pela primeira vez que isso é possível."

Continua valendo, entretanto, a ressalva de que serão necessários muitos anos de pesquisa até que essa tecnologia possa ser aplicada em seres humanos como prática rotineira. "Tudo isso é pesquisa básica", salienta Patricia Pranke, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e presidente da ONG Instituto de Pesquisas com Células-Tronco. Bastaram os resultados da pesquisa coreana chegarem à mídia para que ela começasse a receber ligações de pessoas interessadas em receber o "tratamento". "O avanço foi muito rápido, mas isso não quer dizer que amanhã ou depois isso vai estar disponível para pacientes. Com certeza não vai."

Antes disso, as células-tronco clonadas terão de ser testadas em animais. E, depois, em testes pré-clínicos controlados, como ocorre hoje com alguns projetos brasileiros envolvendo células-tronco adultas.