Título: Embrapa apresenta os clones Porã e Potira
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2005, Vida &, p. A29

Os pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) anunciaram ontem o nascimento de dois clones bovinos da raça junqueira. O nascimento pode representar uma chance de salvação para essa raça no Brasil, que hoje se encontra em estado crítico de extinção, com rebanho inferior a cem animais. Porã e Potira, as novas bezerras, são clones da mesma fêmea da raça junqueira, que faz parte do Programa de Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais da Embrapa. As duas foram clonadas a partir de um fragmento da orelha da vaca doadora, de 9 anos. A vaca doadora e as bezerras estão sendo criadas no Campo Experimental Sucupira, da Embrapa, no entorno de Brasília. Porã nasceu em 10 de abril, com 25 quilos, depois de 292 dias de gestação; Potira, no dia 24, com 29 quilos e 290 dias de gestação. De acordo com a Embrapa, as duas nasceram de parto normal, saudáveis e estão sendo monitoradas desde a gestação.

Segundo o professor de clínica de ruminantes da Universidade de Brasília (UnB) José Renato Borges, elas se alimentam de capim e leite e têm engordado um quilo por dia, o que é normal para bezerros da raça. A situação clínica é avaliada por veterinários da UnB. "Uma vez por semana, fazemos exames de sangue para saber se há algum problema", disse.

Aos pesquisadores da unidade de recursos genéticos da Embrapa cabe avaliar aspectos comportamentais, genéticos e de desenvolvimento dos clones, informou o pesquisador Rodolfo Rumpf. "Não sabemos como vão se desenvolver os clones. Por isso, é preciso acompanhamento constante." Ele afirmou que testes de DNA feitos pela empresa Genomax comprovam que o perfil genético das bezerrinhas é igual ao da vaca doadora e diferente dos perfis das mães de aluguel.

Porã e Potira não são os primeiros animais clonados pela Embrapa. Os pesquisadores do Cenargen foram responsáveis pelo nascimento do primeiro clone bovino da América Latina, a fêmea da raça simental Vitória da Embrapa, em 2001. Em 2003, nasceu a bezerra Lenda da Embrapa, clonada a partir de células de uma vaca já morta. Os experimentos, porém, nem sempre deram certo. Em maio de 2004, morreu a vaca Vitoriosa da Embrapa, clone de Vitória. A causa foi choque cardiogênico por hipertensão arterial. "Não podemos dizer que não acontecerá o mesmo com as duas bezerrinhas. Precisamos de tempo para avaliar o comportamento dos clones", observou Rumpf.

A raça junqueira tem tripla aptidão: produção de carne, leite e tração. Os primeiros animais chegaram ao Brasil nos séculos 18 e 19, importados da Espanha e de Portugal, e foram para São Paulo e Minas. Eles se adaptaram bem às condições brasileiras, mas foram aos poucos sendo trocados pelos zebus. "Algumas raças estão no Brasil desde a época de colonização e podem ser consideradas tesouros genéticos para programas de melhoramento, pois possuem características de rusticidade, adaptabilidade e resistência a doenças e parasitas adquiridas ao longo dos séculos", afirmou Rumpf. "Muitas se encontram em risco de extinção, pois foram sendo substituídas por outras, consideradas mais produtivas, porém menos adaptadas", completou.

Desde a década de 80, a Embrapa investe na conservação de raças ameaçadas de extinção.