Título: Amazônia escandaliza os ingleses
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2005, Vida &, p. A30

O aumento da destruição da floresta amazônica em 26.130 quilômetros quadrados, divulgado na quarta-feira pelo Ministério do Meio Ambiente, recebeu ontem uma enorme atenção da imprensa britânica, que não poupou críticas ao governo brasileiro e ao governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS). O assunto foi abordado pelos diários The Independent, The Guardian e Financial Times. O Independent, por exemplo, publicou uma capa intitulada: "O estupro da floresta... e o homem por trás disso". Segundo o jornal, Maggi é "um fazendeiro milionário e um político sem compromissos que preside o boom da produção de soja brasileira". O governador é conhecido como o Rei da Soja, mas, segundo o diário, os ambientalistas o tratam como o Rei do Desflorestamento. "Pois a explosão da soja, alimentando um mercado mundial aparentemente insaciável por grãos usados na ração para gado, é o principal motor da destruição da floresta", disse o jornal britânico.

PRÁTICA INDEFENSÁVEL

O diário também abordou o assunto em um editorial, com o título "Pare a destruição das florestas". Segundo o jornal, "é impossível elaborar um argumento coerente a favor da destruição contínua da floresta brasileira, mas mesmo assim essa prática indefensável continua".

O Independent lembrou que, segundo dados divulgados pelo governo brasileiro, a destruição da floresta amazônica no ano passado foi a segunda maior já registrada. Foi a pior devastação desde 1995, quando uma área equivalente à da Bélgica foi destruída. De acordo com o jornal, o que torna esses números ainda mais deprimentes "é que eles sucedem um anúncio feito pelo governo brasileiro de que o desflorestamento seria finalmente controlado".

Mas os números mostram, observa o diário, "que embora o presidente de centro-esquerda Luiz Inácio Lula da Silva possa falar a linguagem do crescimento sustentável, até agora ele fez pouco para conter as atividades das madeireiras, de produtores de soja e pecuaristas responsáveis pela aguda erosão da maior reserva natural vegetal do Brasil".

O Independent observou, ainda em seu editorial, que a comunidade internacional também arca com parte da responsabilidade. "Grande parte da madeira cortada nas florestas tropicais do mundo é vendida nas nações ricas, como o Reino Unido", publicou o jornal. "O G8 e a União Européia têm o poder de banir a importação de madeira ilegal."

ECONOMIA

O também britânico The Guardian disse que o tamanho da destruição "chocou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que havia dito aos delegados do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, no início deste ano, que acreditava que os aumentos no desflorestamento tinham sido contidos". O Guardian destacou que, de fato, a destruição no ano passado foi quase 6% maior do que no mesmo período em 2003.

Já o Financial Times afirmou que a destruição da Amazônia foi motivada pela recuperação econômica e pela expansão das exportações. Segundo o diário financeiro, críticos do governo dizem que "uma carência de recursos, corrupção, burocracia e oposição política" limitam a implementação das políticas que visam a preservação da floresta.

Na Espanha, a notícia do aumento da devastação da floresta também ganhou espaço em um dos principais jornais. De acordo com El Pais, a Amazônia brasileira perdeu em um ano uma área verde equivalente à Galiza.