Título: Em crise, Vivo troca o comando
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2005, Economia, p. B11

Presidente da Telefônica no Brasil acumula presidência do conselho, reforçando a posição do sócio espanhol na empresa

Maior operadora de telefonia móvel do País, a Vivo enfrenta uma crise, que inclui perda de participação de mercado, redução de rentabilidade, desentendimento entre sócios e problemas com as autoridades de defesa do consumidor. Para resolvê-la, anunciou ontem a troca de seus dirigentes, que aponta um novo equilíbrio de forças entre seus acionistas, a espanhola Telefónica e a Portugal Telecom, que têm participações iguais na empresa. A partir de 1.º de julho, o português Francisco Padinha será substituído por Roberto Oliveira Lima, ex-Credicard, na presidência da empresa. O também brasileiro Fernando Xavier Ferreira, presidente do Grupo Telefônica no Brasil, ocupará a presidência do Conselho da holding, acumulando as duas funções. O espanhol Felix Ivorra, que ocupava o posto, volta à matriz. "A mudança vai ser positiva para a Vivo", disse o analista Luis Minoru Shibata, do Yankee Group.

A empresa quis que parecesse que foi somente uma troca de executivos estrangeiros por brasileiros, mas não é isto o que se depreende das palavras do novo chairman, Fernando Xavier Ferreira: "Numa empresa em que os sócios têm participações de 50% e 50%, a presidência do Conselho torna-se mais relevante ainda". Parecendo bastante satisfeito, Xavier explicou que caberá a ele resolver as diferenças de visão entre os acionistas. No equilíbrio de forças, os espanhóis fortaleceram sua posição na Vivo, e abrem espaço para uma atuação mais próxima com a Telefônica fixa. O executivo conversou com os jornalistas depois do anúncio oficial das mudanças, onde só falaram os presidentes mundiais da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, e da Telefónica, César Alierta.

Pelo menos, assim havia sido combinado. Porque Roberto Oliveira Lima, o novo presidente, fez uma única intervenção, dizendo que tinha "somente meia hora de Vivo", e que por isso não poderia responder a perguntas. Depois do anúncio, divulgou uma declaração por escrito: "Direciono neste momento todos os meus esforços para manter o crescimento rentável da Vivo". "É um dia de satisfação para todos nós", disse Alierta. "A Vivo está fechando um ciclo notável", afirmou Horta e Costa. As palavras positivas, porém, contrastam com a performance da Vivo, que teve sua marca anunciada em abril de 2003.

Em um mercado competitivo e de rápida expansão, o maior desafio das empresas é combinar rentabilidade e crescimento. A Vivo tem conseguido o pior de dois mundos: perda de rentabilidade aliada à redução de participação de mercado. Em março de 2003, as empresas que formam a Vivo tinham 47,1% do total de assinantes de celular no País. No mês passado, estavam com 38,8%. O mercado brasileiro de telefones móveis cresceu 97% desde o lançamento da Vivo, chegando a 70,79 milhões. A base de assinantes da operadora, por outro lado, aumentou 62%, para 27,48 milhões.

Segundo os dados divulgados pela Portugal Telecom, a margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da Vivo, que mede a rentabilidade da empresa, diminuiu em 2,3 pontos porcentuais no primeiro trimestre, quando comparado ao mesmo período de 2004, passando para 35,8%. Na última linha, as operadoras da Vivo acumulam perdas de R$ 585 milhões desde que a marca foi lançada.