Título: Para esvaziar CPI, governo faz blitz contra acusados dos Correios
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Nacional, p. A4

Numa reação do governo às pressões para que investigue as denúncias de corrupção nos Correios, a Polícia Federal promoveu ontem uma blitz em sete endereços - cinco em Brasília e dois em Salvador. Foram apreendidos computadores, disquetes, relatórios e outros documentos que podem confirmar a participação de ex-dirigentes dos Correios num esquema que fraudava licitações e cobrava propina para intermediar negócios do estatal com fornecedores. Além do edifício-sede da ECT em Brasília, as buscas atingiram casas e escritórios mantidos por três funcionários afastados da empresa: Maurício Marinho, ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material, Antônio Osório Batista, ex-titular da Diretoria Administrativa, e Fernando Godoy, assessor dessa diretoria. No mesmo despacho em que autorizou a operação, o juiz Cloves Barbosa de Siqueira, da 10.ª Vara Federal de Brasília, negou o pedido de prisão preventiva dos três suspeitos.

Apesar disso, Marinho deverá ser indiciado hoje mesmo pelo delegado Luís Flávio Zampronha por corrupção passiva e fraude em licitações, cuja pena prevista varia de 2 a 12 anos de prisão. Os outros dois suspeitos também deverão ser indiciados nos próximos dias.

Embora haja indícios suficientes para justificar a operação policial, o vigor da iniciativa foi interpretado no meio político como tendo um objetivo claro: conseguir enfraquecer a tentativa de abertura de uma CPI para investigar os Correios. Por esse raciocínio, o governo estaria, com a blitz, buscando dar aos aliados um argumento para não apoiar a realização de investigações no Congresso. A idéia é consolidar a impressão de que todas as medidas necessárias para esclarecer o episódio já estão sendo tomadas - o que dispensaria os parlamentares de fazer uma apuração própria.

A polícia avalia que os documentos encontrados na sede da ECT são os que contêm as informações mais importantes. Isso porque - tão logo o escândalo veio à tona, há uma semana - a direção dos Correios determinou que fossem isoladas as salas onde os três dirigentes despachavam, lacrando computadores, gavetas, agendas e arquivos.

O principal envolvido no caso, Maurício Marinho - flagrado em gravações quando negociava propina com dois interlocutores não identificados -, vem sendo vigiado por agentes federais desde sexta-feira. No momento da batida, o ex-chefe de departamento estava num edifício comercial de Brasília, numa reunião com os advogados encarregados de sua defesa.

Ele será indiciado hoje Intimado na tarde de ontem, Marinho deve prestar depoimento hoje. A polícia espera que ele informe a identidade das duas pessoas que fizeram a gravação. É provável que sejam profissionais da espionagem que entraram no prédio dos Correios usando nomes falsos. Pelas informações preliminares, um deles teria se apresentado como doutor Paulo.

A PF e o Ministério Público Federal estudam a possibilidade de propor a Marinho um acordo legal, dentro do programa de delação premiada, pelo qual ele poderia ter a pena aliviada caso colaborasse com as investigações. Outro suspeito, Fernando Godoy, também será ouvido hoje em Brasília. Segundo policiais, ele é o suspeito com sinais de riqueza mais evidentes, pois tem imóveis em Brasília e Florianópolis. Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal ainda estão, porém, cruzando informações para chegar a uma estimativa mais precisa do patrimônio dos suspeitos.

A polícia confirmou ontem que são fortes os indícios de ligação entre o escândalo dos Correios com o esquema descoberto no ano passado durante as investigações da chamada Operação Vampiro. As informações sobre nomes de pessoas e de empresas que aparecem no inquérito aberto na Superintendência da PF do Distrito Federal serão repassadas ao delegado responsável pelas investigações sobre falcatruas na ECT.