Título: Seguradora ajudou filha de Jefferson a se eleger
Autor: Suely Caldas e Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Nacional, p. A6

RIO A Assurê Administração e Corretagem de Seguros e o presidente-executivo do Grupo Assurê, Henrique Jorge Duarte Brandão, financiaram, em 2004, 20% dos gastos oficiais de campanha registrados pela vereadora Cristiane Brasil (PTB), filha do presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). De acordo com a Prestação de Contas Eleitorais da parlamentar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a empresa doou R$ 70 mil, e Brandão, R$ 10 mil, dos R$ 399.984,86 despendidos. Brandão é apontado como um dos articuladores, com Jefferson, da derrubada de Lídio Duarte da presidência do IRB Brasil Resseguros S.A., empresa controlada pelo governo federal e cuja direção foi retalhada entre PTB, PP, PMDB e PT. O executivo nega. Duarte, que ocupava o cargo por indicação do então presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), deixou o cargo em março, depois de pedir demissão. Martinez morreu em acidente aéreo. Duarte foi substituído por Luiz Appolonio Neto, indicado por Jefferson.

Em entrevista exclusiva ao Estado, na semana passada, o ex-presidente do IRB disse que Jefferson lhe pediu que recebesse os deputados federais petebistas Nelson Marquezelli (SP) e Elaine Costa (RJ), que lhe pediram empregos para apadrinhados. Duarte disse que se recusou a atender aos pedidos, alegando que no IRB trabalham apenas funcionários concursados e de carreira, mas não relacionou sua saída à negativa.

Somadas, as contribuições da Assurê e de Brandão foram as maiores recebidas por Cristiane. Ela foi eleita vereadora na capital com 13.315 votos, numa coligação com o PT. O resultado eleitoral foi o pior obtido pelo PT carioca desde 1985: foram eleitos apenas três petistas. Outro petebista eleito foi Renato Moura, com 14.419 votos. A coligação PT-PTB foi acertada nacionalmente pelos dois partidos, e a eleição de Cristiane, com a coligação das chapas de vereador, foi uma das condições impostas por Jefferson para a aliança. Ontem, o Estado tentou falar com Cristiane e Brandão. A assessoria da vereadora informou que ela não comentaria o caso. Na Assurê, informava-se que o presidente estava viajando.

No ano passado, houve reclamações informais, feitas ao Conselho de Administração do IRB, de que algumas corretoras estariam sendo mais acionadas pela empresa que outras para fechar negócios no exterior. A Assurê, representante no Brasil da Acordia Re, Inc., intermediou em 2004 negócios de US$ 18,4 milhões, equivalendo a 3,6192% do total, a quinta em volume. Brandão também é presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Rio de Janeiro e vice-presidente da Federação Nacional de Corretores.

Por causa das reclamações, foram baixadas então normas reforçando a impessoalidade nas escolhas e diminuindo o poder individual dos diretores para determinar pagamentos. Um grupo de deputados chegou a ir ao Ministério da Fazenda reclamar que "não fora aquilo o combinado".