Título: Dirceu articula reação a tucanos
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Nacional, p. A8

Preocupados e irritados com os últimos ataques do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do PSDB ao governo e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Articulação Política, Aldo Rebelo, resolveram unir forças para tentar reagir às críticas. Depois de reunir a base aliada no Planalto pela manhã para traçar uma estratégia de combate à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, eles convocaram uma nova reunião para tarde, desta vez com os ministros políticos para tentarem convencer as bancadas a ajudar o governo ao unificar o discurso para reagir ao PSDB. O presidente em exercício José Alencar, que não participou do encontro, negou, no entanto, que o Planalto esteja tentando barrar a CPI. "CPI não é assunto para o Palácio do Planalto, é assunto parao Congresso Nacional e nós não nos metemos nisso", declarou, ao final de uma cerimônia. Negou, inclusive, que esteja trabalhando, junto ao PL, para que todos os deputados retirem suas assinaturas da proposta de abertura da CPI.

Foram quase quatro horas de reunião e ao final os ministros saíram do encontro convencidos de que cada um precisa, o quanto antes mobilizar suas bancadas, para evitar que a oposição use estes últimos acontecimentos, que poderão levar à CPI dos Correios, como uma arma contra o governo, como aconteceu no final de semana. Agora, todos reunirão com os deputados de seus partidos para pedir-lhes união de discurso e necessidade de se apresentarem fortes para combater o que estão classificando como "golpismo".

Os ministros ficaram muito incomodados com as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, feitas sábado durante o encontro do PSDB paulista, de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está perdido e "fica rodando como peru bêbado em dia de carnaval". Consideram "um desrespeito" à figura do presidente Lula e dizem que isto "mexeu com os brios" de todos. O Planalto considerou que Fernando Henrique abandonou a postura de ex-presidente, que vinha adotando até agora, e partiu para o ataque, baixando o nível da discussão e entrando pelo caminho do desrespeito, ao se preocupar apenas com a campanha eleitoral.

No encontro da tarde com Dirceu e Aldo foram chamados também os ministros da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, das Comunicações, Eunício Oliveira, da Integração, Ciro Gomes, além dos líderes do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia e no Senado, Aloísio Mercadante.

Todos vão cobrar da base uma postura de alinhamento e defesa do governo sob a alegação de que, do contrário, estarão trabalhando para a oposição, que afirmaram ter passado dos limites.

Alencar - Na entrevista dada depois da inauguração de uma exposição sobre o relançamento do Projeto Rondon, José Alencar depois de dizer que "de forma alguma" vai trabalhar que deputados retirem suas assinaturas. "Não há nada disso. Nós não nos entrometemos nas questões de CPI. CPI é assunto do Congresso Nacional", reiterou o presidente em exercício.

Sobre a reunião de emergência convocada por Lula antes de viajar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, José Alencar disse que o encontro foi apenas para que o presidente pudesse dar as orientações tradicionais antes de uma viagem internacional de uma semana. "Não houve reunião de emergência. É que antes de o presidente viajar, ele reúne conosco, e isso é natural. É a mesma coisa que acontece em toda instituição quando sai o titular", acrescentou o presidente em exercício, que passou a defender o trabalho que está sendo realizado pela Polícia Federal, que classificou de eficiente, gigantesco e admirável.