Título: Militares não vêem por que temer crise institucional
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Nacional, p. A9

Oficiais das Forças Armadas dizem não ver motivos para que integrantes do governo e do PT acusem a oposição de tentar produzir uma crise institucional, ao apostar na abertura da CPI dos Correios. Essa acusação tem sido repetida por ministros como José Dirceu, da Casa Civil, e Aldo Rebelo, da Coordenação Política. O presidente do PT, José Genoino, chegou a acusar os adversários de atuarem como "vivandeiras da crise", recorrendo assim a uma expressão comum nos tempos do regime militar.

De acordo com os oficiais ouvidos pelo Estado, os discursos feitos pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros dirigentes da oposição têm conteúdo político legítimo.

A retórica oposicionista, segundo esses militares, não fere os limites da democracia e, de forma nenhuma, os levará a tentar aventuras semelhantes a um golpe, como o ocorrido em 1964.

ORIGEM

O termo "vivandeiras" - que de acordo com o dicionário Aurélio são mulheres que vendem mantimentos, ou os levam, acompanhando tropas em marcha - foi usado nos anos 60 pelo marechal Castello Branco para definir civis com espírito golpista.

Em artigo publicado em 1999, o jornalista Elio Gaspari lembrou as palavras de Castello: "Eu os identifico a todos. E são muitos deles, os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques (acampamentos) bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar."

Genoino admitiu ontem que nem sabia o exato significado político do substantivo "vivandeiras". Ele explicou: "Quero dar à palavra o sentido de fazer ameaças, especular. É isso que o PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fazem."

Em agosto de 1964, quando Castello falou pela primeira vez nas "vivandeiras", Genoino terminava o ginásio (antigo primeiro grau) numa escola municipal de Fortaleza e se preparava para fazer o curso de madureza (o segundo grau para os que tinham entrado tarde na escola).

Para o vice-presidente José Alencar, presidente da República em exercício e ministro da Defesa, é normal a reação às críticas do ex-presidente Fernando Henrique - para quem "o governo está sem rumo e parece um peru bêbado em dia de Carnaval".

"Qualquer pessoa que resolve atirar uma pedra deve se lembrar de seu telhado", disse Alencar.