Título: Uma arapuca bem armada, reclamam deputados
Autor: Luiz Maklouf Carvalho
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Nacional, p. A11

Antes da fatídica gravação, na tentativa de aproximar-se de 21 dos 24 parlamentares que não rezavam pela sua cartilha, o governador chamou para uma conversa o deputado Ronilton Capixaba (PL). Convidou-o para ser o líder do governo. Capixaba disse que só aceitaria com o apoio de outros colegas - justamente os que levou para a conversa que seria gravada, na casa de Cassol. O deputado Edésio Martelli (PT) ouviu, de alguns deles, que Cassol montou a arapuca com a maestria de um derrubador de mognos. Segundo Martelli, os corruptos confessos disseram que o "o governador telefonou, convidou para ir à casa dele, fez a proposta de compra primeiro, deixando-os à vontade, calou-se e só então mandou ligar as câmeras escondidas". A postura anterior do governador, não gravada, é que explicaria a desenvoltura de Ellen Ruth e dos demais, mas especialmente dela, que também é investigada pelo TRE sob a acusação de compra de votos.

Martelli diz que o zunzunzum sobre as fitas comprometedoras em mãos do governador era recorrente na Assembléia. O deputado Amarildo Almeida (agora afastado do PDT), um dos sete, contou ao Estado, depois do escândalo, que o governador algumas vezes o ameaçou pessoalmente ou por mensagens. Segundo o deputado, as palavras digitadas eram "fitas, plim-plim e Rede Globo".

O rumor sobre as fitas cresceu quando os deputados preparavam-se para decidir se autorizavam ou não o STJ a processar o governador no caso Rolim de Moura.

Dada a autorização, Carlão e os seus liderados, incluindo os deputados petistas, agilizaram outro processo: a representação do economista Carlos Guimarães de Souza, acusando Cassol de desrespeitar a Lei de Orçamento Anual de 2004, por ele mesmo sancionada. Alegando insuficiência de recursos, o governador cortou radicalmente as verbas que a lei mandava transferir para a Assembléia, o Tribunal de Contas do Estado e o Tribunal de Justiça. Uma comissão examina o caso. O ritmo foi muito acelerado depois da denúncia do Fantástico.