Título: Exército boliviano adverte opositores
Autor: Reuters, AP e AFP
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Internacional, p. A12

Em meio à retomada dos grandes protestos de rua em La Paz, as Forças Armadas da Bolívia divulgaram ontem um comunicado no qual conclamaram os grupos a atuarem "no marco das leis da república e da Constituição política do Estado". "Qualquer ação que viole esses princípios, por mais legítimas que sejam as demandas, não será aceita por essa instituição. Da mesma maneira, impedir com medidas de facto o processo constitucional dessas demandas também não será aceito.Uma atmosfera de incerteza está sendo criada e, longe de solucionar os problemas, está ampliando o risco de choques entre regiões." O comunicado das Forças Armadas se refere não só às reivindicações da oposição para que se nacionalize a produção de gás e petróleo da Bolívia, mas também a um projeto separatista do rico Departamento (província) de Santa Cruz. A nota dos militares foi emitida após fortes rumores, que circularam no domingo, de que um golpe era iminente.

O clima de tensão se acirrou ontem à tarde quando soldados da Polícia Nacional entraram em choque com manifestantes que tentaram romper um cordão de isolamento na Praça de Armas de La Paz, onde se localizam o palácio de governo e a sede do Congresso. Entre 8 mil e 10 mil manifestantes se concentravam no centro da cidade quando os policiais começaram a disparar jatos d'água e cilindros de gás lacrimogêneo para evitar que a marcha se aproximasse dos edifícios governamentais. Segundo os policiais, um grupo de mineiros lançou pequenas cargas de dinamite contra os membros da polícia antidistúrbio que ocupava a praça.

"Como instituição policial, nos manteremos em prontidão", disse o comandante da polícia, coronel David Aramayo. "Estamos deixando que se manifestem livremente pela cidade, mas não aceitaremos que nos ataquem."

Entre outras reivindicações, os manifestantes exigem a radicalização da Lei de Hidrocarbonetos, promulgada pelo Congresso na semana passada, que forçou empresas petrolíferas estrangeiras - incluindo a brasileira Petrobrás - a revisar planos de investimento no país.

Além da manifestação no centro da cidade, também chegaram ontem a La Paz - sob a liderança do líder opositor Evo Morales - milhares de camponeses plantadores de coca, que por uma semana marcharam 200 quilômetros através dos Andes para apoiar o movimento pela nacionalização dos poços de gás e petróleo.