Título: O lance de alto risco de Schroeder
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Internacional, p. A13

Derrotado domingo nas eleições da Renânia do Norte-Westfalia, o chanceler social-democrata alemão, Gerhard Schroeder, deu ontem um passo decisivo para a convocação de eleições antecipadas na Alemanha: ele resolveu submeter seu governo antes de 1.º de julho a um voto de confiança no Parlamento. Se a moção for rejeitada, o presidente alemão, Horst Koehler, terá prazo de 21 dias para comprovar a perda de apoio parlamentar do governo, dissolver o Parlamento e marcar eleições para 60 dias depois - provavelmente em 18 de setembro. Schroeder tem maioria parlamentar. Mas a estratégia dele é simples: seus partidários deverão se abster de votar para que a oposição rejeite a moção. A decisão abre as portas para a eleição de um candidato da oposição conservadora democrata-cristã na Alemanha, a CDU, o que dará mais consistência aos argumentos dos que defendem o "não" à Constituição da União Européia e facilita a caminhada ultraliberal na Europa. Ela poderá ser até acelerada se a líder democrata-cristã Angela Merkel for candidata.

REFERENDO FRANCÊS

A derrota do SPD de Schroeder constitui um obstáculo suplementar aos defensores do "sim" à Carta européia na França, pois torna mais frágil o motor franco-alemão. As duas economias, da França e da Alemanha atravessam atualmente uma grave crise com suas conseqüências políticas.

A dupla franco-alemã Jacques Chirac-Schroeder, que vinha se entendendo às mil maravilhas até agora, poderá, daqui em diante, funcionar de forma diferente com Merkel. Ela defendeu, por exemplo, a guerra contra o Iraque e poderá, se eleita em setembro, buscar reequilibrar as relações com os EUA. Merkel, originária da ex-RDA, terá também relação difícil com o presidente russo, Vladimir Putin, como é o caso de alguns países do Leste. Ontem, contudo, ela se recusou a dizer se será candidata.

De qualquer forma, a convocação de eleições antecipadas na Alemanha é considerada um lance de pôquer de alto risco, admitiu Schroeder. Diante desse quadro, o chanceler confirmou viagem a Toulouse, na França, para participar de um comício pelo "sim".

Também José Luiz Zapatero, primeiro-ministro da Espanha, onde a Constituição também foi aprovada, via referendo e Parlamento, estará ajudando o " sim" na França nesta reta final, enquanto Chirac e o ex-primeiro-ministro socialista Lionel Jospin estarão durante a semana na televisão para defender a mesma posição européia, uma última tentativa de reverter a tendência ou de conquistar os quase 20% de indecisos. Isso porque nova pesquisa do instituto Ipsos revela que 53% dos eleitores se preparam para votar "não" e 47%, "sim".