Título: Pais dão nota 8 ao ensino público
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2005, Vida&, p. A15

A avaliação que os pais de alunos fazem das escolas públicas é muito melhor do que a imagem tradicionalmente atribuída a elas. A primeira pesquisa sobre a qualidade das escolas feita pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas em Educação (Inep) do Ministério da Educação mostra que os pais dão nota 8 para as instalações e para a organização da escola, apesar de acharem que a escola está muito fácil e reclamarem da falta de computadores. A pesquisa foi feita com 10 mil pais de alunos em escolas públicas de ensino fundamental de todos os Estados, mas apenas em áreas urbanas. O fato de as escolas rurais - normalmente as que ficam mais longe e têm a pior infra-estrutura - terem ficado de fora pode ter influenciado no resultado geral da pesquisa. A localização foi justamente o quesito que teve a melhor nota média entre os 11 pontos perguntados: 8,7.

Na primeira parte da pesquisa, em que foram feitos grupos de discussão com pais, a localização das escolas também havia sido o ponto mais elogiado. "Isso é um reflexo do crescimento extraordinário do número de escolas que aconteceu no País nos últimos anos", disse Carlos Henrique Araújo, diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep.

Os pais também classificam como bom o atendimento nas secretarias das escolas e a higiene das cozinhas. As piores notas são dadas para os laboratórios de informática - ou melhor, para a falta deles -, para as bibliotecas e para as quadras de esportes. Muitas escolas brasileiras, especialmente as menores, não têm bibliotecas nem quadras, muito menos computadores para uso dos alunos.

CONTRASTE

A percepção de que a escola pública é boa, dada pelos pais, contrasta com as imagens comuns de escolas sem materiais ou professores e de problemas de aprendizagem. A diferença pode ser explicada, pelo menos em parte, pelo perfil dos pais dos alunos e pela expectativa que eles têm da escola. A maioria, 53,5%, tem renda inferior a dois salários mínimos. Um terço não completou a 8.ª série e quase 20% deles têm menos de quatro anos de estudo.

A maior parte dos alunos tem como responsáveis pelos seus estudos a mãe. Apenas 20% dos responsáveis têm empregos com carteira assinada. Em média, 40% dos pais não lêem livros, revistas ou jornais. "As famílias são pobres, têm dificuldade de acesso a bens materiais e um baixo capital cultural", diz Araújo. "Os resultados não significam que a escola seja boa, mas que é importante para esses pais. Temos de relativizar os resultados", disse o presidente do Inep, Eliezer Pacheco.

A pesquisa mostra que os pais, em sua maioria, consideram a escola dos filhos muito melhor do aquelas em que eles estudaram. No entanto, mostra, também, que eles têm consciência de que as escolas particulares, de um modo geral, são melhores.

Durante a apresentação da pesquisa, o Inep não mostrou as respostas que faziam a comparação entre os dois tipos de escola, mas os resultados estão no resumo técnico da pesquisa. A maioria dos pais acredita que os professores das particulares têm mais possibilidade de se aperfeiçoar, são mais bem preparados e atendem melhor os pais.

A pesquisa mostra ainda que a violência também é um problema. Apesar de a maioria dos pais responder negativamente sobre a existência de delitos nas escolas, o porcentual daqueles que sabem de ocorrências é maior do que se deveria esperar. As brigas são os maiores problemas, segundo os pais: 52% deles responderam que elas são constantes nas escolas. Outros 28,6% dizem que a violência atrapalha o funcionamento da escola e 30% que existem roubos no local de estudo.

O levantamento aponta um dado estranho sobre a merenda escolar. Apenas 80% dos pais dizem que a escola oferece merenda escolar todos os dias. Como o Ministério da Educação repassa recursos mensais para todos os municípios usarem na compra da merenda, o resultado mostra indícios de problemas. "Realmente, deveria ser 100%", reconhece Pacheco.