Título: Marginal: Serra e Alckmin divergem
Autor: Bruno Paes Manso
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Metrópole, p. C4

O governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra divergiram ontem sobre os motivos pela demora no escoamento das águas nas pistas da Marginal do Tietê. Ambos, no entanto, evitaram entrar num embate. Alckmin atribuiu parte do caos que se instalou na cidade, principalmente na Marginal, à falta de bombas sob as pontes. "Se tivessem bombas debaixo das pontes, a Marginal não estaria alagada até agora", afirmou o governador pela manhã, após sobrevoar a região e verificar que o nível do rio havia baixado, mas as pistas próximas às pontes continuavam alagadas.

De todas as pontes, apenas a das Bandeiras tem equipamento para bombear a água acumulada na pista - seja pela chuva ou transbordamento - para o rio. Mesmo assim, segundo Alckmin, precisa de mais potência.

Para Serra, a única explicação para o alagamento da Marginal foi a forte chuva, que classificou de minitsunami. "Os problemas de hoje não tiveram a ver com bombas nem piscinões. Têm a ver com o volume da chuva."

À noite, Alckmin convocou a imprensa para uma entrevista e fez ponderações. "Não teria bomba que resistiria a essa chuva."

Apesar das declarações, os dois evitaram entrar em confronto. "Não vou responsabilizar ninguém. O Tietê é responsabilidade do Estado e estamos fazendo a obra principal. Nas Marginais, vamos ajudar o Município para podermos ter bombas e diques (muros de contenção) sob todas as pontes", disse o governador. Serra respondeu: "Se ele quiser comprar (as bombas), ótimo. Mas isso é secundário. Não é fundamental agora. O importante é concluir a limpeza da cidade."

Alckmin e Serra passaram o dia dando explicações para o estado de calamidade. O governador visitou pela manhã a Marginal do Tietê e seguiu para o interior do Estado, também atingido pelas chuvas.

Serra fez uma maratona de entrevistas no início da manhã e também visitou a Marginal. Os dois não se encontraram, apenas se falaram por telefone.

OBRA AJUDOU

Apesar do transbordamento do Tietê, o governador defendeu a obra de rebaixamento da calha do rio. "Nunca podemos dizer, em engenharia, que, com uma chuva excepcional com esta, você não vai ter problema. Toda vez que chovia, o Tietê inundava a Marginal. Ficamos três anos sem ter esse tipo de problema. A obra ajudou sim. Se não teríamos uma situação muito mais grave."

Máquinas ficaram submersas e os trabalhos foram interrompidos ontem. Mas, conforme Alckmin, as chuvas não prejudicarão o ritmo das obras. A previsão é que elas sejam concluídas até dezembro. Sobre os piscinões, ele afirmou que os 33 da região metropolitana funcionaram, minimizando o impacto do temporal.

Serra rebateu as críticas da oposição de que a Prefeitura teria investido pouco nesse início de governo em serviços e obras de combate às enchentes. "É uma declaração infantil. É apenas uma palavra de oposição que está torcendo pelo quanto pior, melhor."

No início da noite, ele divulgou uma nota à imprensa em que agradece a todos os funcionários da Prefeitura pelos "esforços para minimizar as dificuldades ocasionadas à população".

O prefeito tentou embarcar para Brasília no fim da tarde de ontem, mas não conseguiu, por causa do atraso nos vôos. Ele teria uma reunião com o ministro interino da Fazenda, Murilo Portugal Gouveia, para discutir mais uma vez a situação financeira dramática da cidade.

O vice-presidente, José Alencar, enviou ontem nota de solidariedade a Alckmin e Serra. v