Título: Cidade foi avisada da forte chuva que viria, diz Inpe
Autor: Bruno Paes Manso
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Metrópole, p. C4

A capital paulista estava avisada sobre a possibilidade da ocorrência de uma forte chuva entre anteontem e ontem, segundo especialistas ouvidos pelo Estado. "Desde domingo, estamos mandando alerta sobre a intensidade da chuva", disse Viviane Algarve, pesquisadora do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ninguém previu, contudo, que a intensidade seria tanta. "Não há como saber com antecedência qual será ao certo o índice pluviométrico (quantos milímetros de chuva)", afirmou a meteorologista Ana Beatriz Porto, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) de São Paulo. "Nós encaminhamos a informação para a Defesa Civil nacional, que distribui a informação. Além disso, a Defesa Civil de São Paulo tem seu serviço de meteorologia", disse Viviane. Segundo ela, cabe à Prefeitura repassar o alerta à população. "Apesar de não saber exatamente quantos milímetros choveria, é melhor divulgar, garantir, nem que acabe exagerando um pouquinho", avaliou.

A Prefeitura declarou que os meios de comunicação, principalmente as rádios, são a forma mais imediata de informar a população sobre chuvas fortes como a de anteontem. Os técnicos do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) lembraram, ainda, que muitos motoristas não respeitam os bloqueios preventivos e tentam avançar em áreas alagadas. Já chegou a ser testado na cidade um serviço que ligava para telefones aleatórios, avisando sobre os riscos de chuva intensa, mas o sistema foi considerado ineficaz.

MOTIVOS

A chuva forte foi resultado da combinação de uma série de fatores. Os pontos-chave foram o encontro de uma frente fria com nuvens carregadas, originária do sul da Argentina, com o ar quente da cidade. Havia também uma massa de ar úmido na capital. "O problema deste ano é que choveu demais em muito pouco tempo. No ano passado, houve mais chuvas, mas foram mais espaçadas", afirmou a meteorologista Zildene Pedrosa de Oliveira Emídio Instituto de Pesquisas Meteorológicas da Unesp de Bauru. Além disso, disse ela, a chuva foi mais intensa em pontos complicados, como a cabeceira do Rio Tietê. "Se fosse em locais que não gerassem tantos transtornos, talvez passasse despercebida."

Além de São Paulo, a chuva atingiu Rio, sul de Minas e parte do Centro-Oeste. Meteorologistas estimam que a chuva deverá continuar seu caminho pelo País. Para hoje, são esperadas fortes chuvas e granizo no Espírito Santo, na Bahia e no norte de Minas, além do sul de Mato Grosso.

Agora, a expectativa é que São Paulo troque a chuva pelo frio. Hoje, a previsão é que a temperatura mínima da cidade seja de 13 graus e a máxima de 24. Para sexta, a mínima será de 11 graus.

HISTÓRICO

Poucas vezes uma chuva foi tão forte e atingiu tantas áreas da região metropolitana ao mesmo tempo. Em menos de 24 horas, choveu o dobro da média mensal. Intensidade e abrangência são dois fatores que explicam os transtornos provocados por mais de 17 horas de chuva.

Desde o início das medições, em 1943, o recorde de chuva foi de 151,8 milímetros, medido em 21 de dezembro de 1988, início do verão e do período mais chuvoso do ano. O CGE da Prefeitura registrou 113,7 milímetros na média da capital, entre as 7 horas de anteontem e as 7 horas de ontem.

De acordo com a meteorologista Patrícia Madeira, da Climatempo, entre as 16 horas de anteontem e as 9 horas da manhã de ontem, choveu 140,4 milímetros só no Mirante de Santana. Esse índice é praticamente o dobro dos 71,8 milímetros registrados no mesmo local em 16 de maio de 1968, o antigo recorde deste mês.