Título: Governo fracassa e CPI passa com ajuda de 13 parlamentares do PT
Autor: João Domingos e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Nacional, p. A4

O PT mais uma vez derrotou o PT. Justamente por causa da resistência dos deputados petistas, fracassou a operação desencadeada pelo governo com o objetivo de impedir a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pedida para investigar as denúncias de corrupção nos Correios. Ministros e líderes governistas intensificaram na noite de ontem as pressões para que parlamentares retirassem suas assinaturas do pedido de instalação da CPI. A ofensiva deu algum resultado, pois muitos parlamentares de partidos aliados e até da oposição se comprometeram a rever seu apoio, mas 12 deputados do PT se mantiveram irredutíveis. Com isso, segundo políticos envolvidos na operação, teria sido possível, na melhor das hipótese, fechar o requerimento com 179 assinaturas - oito além do mínimo necessário. Como a operação já tinha dado errado, alguns líderes decidiram não apresentar os requerimentos de retirada de assinatura encaminhados por alguns deputados. Assim, o requerimento foi fechado com a assinatura de 240 deputados. "Faltou pouco para conseguirmos", admitiu o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), quando o relógio já se aproximava da meia-noite. Em telefonema ao ministro-chefe da Casa Civil, o líder mostrou resignação: "Não deu. É a vida." Um passo decisivo para a criação da CPI tinha sido dado de manhã, quando o requerimento foi lido durante sessão conjunta da Câmara e do Senado. O Planalto, porém, tinha justamente até a meia-noite para buscar reverter a situação, pois só nesse horário a lista de apoio à CPI seria considerada formalmente fechada.

Até o início da noite, o pedido contava com o apoio de 258 deputados e 53 senadores - enquanto o mínimo necessário para a instalação da CPI eram 171 deputados e 27 senadores. Os apelos do governo surtiram mais efeitos em outros partidos aliados do que no PT. Do PTB, apenas um deputado manteve a assinatura no requerimento. Também só um parlamentar do PCdoB não recuou. Do PL, foram cinco os renitentes. No PP, sete. Além do PT, outro importante foco de resistência foi o PMDB, que deu 22 assinaturas a favor da CPI. Isso, apesar de um esforço especial do Planalto que inclui um telefonema de Dirceu para o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, comandante do grupo peemedebista mais arisco.

A estratégia do governo, a partir de agora, será a de boicotar os trabalhos da CPI. Os líderes aliados serão instados a indicar para a comissão representantes cuja fidelidade ao Planalto seja acima de qualquer suspeita. A idéia é fazer com que os escolhidos faltem permanentemente às reuniões da CPI, impedindo até mesmo a escolha do presidente e do relator dos trabalhos.

Os deputados do PT que mantiveram suas assinaturas no requerimento foram: Antônio Carlos Biscaia (RJ), Chico Alencar (RJ), Doutor Rosinha (PR), Doutora Clair (PR), Gilmar Machado (MG), Ivan Valente (SP), Orlando Fantazzini (SP), Paulo Rubem Santiago (PE), Maninha (DF), Mauro Passos (SC), Nazareno Fonteles (PI) e Walter Pinheiro (BA).