Título: No desespero, governo volta a abrir o cofre
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Nacional, p. A5

Na tentativa de impedir a abertura da CPI escalada para investigar as suspeitas de corrupção nos Correios, o Palácio do Planalto abriu os cofres públicos numa velocidade poucas vezes vista. Na tarde de ontem, num período de apenas duas horas, mais do que dobrou o volume de recursos liberados para atender a emendas de parlamentares ao Orçamento da União. Segundo dados do Sistema Integrado da Administração Financeira (Siaf), até as 16 horas de ontem o governo autorizara despesas no valor de R$ 395,4 mil destinados a obras solicitadas por 12 parlamentares. Às 18 horas, a cifra tinha pulado para R$ 933,4 mil e o número de beneficiados subira para 18. Segundo técnicos do PFL e do PSDB que acompanhavam a liberação das emendas, o governo - além de pagar quase R$ 1 milhão para emendas propostas individualmente por parlamentares - assumiu o compromisso de empenhar também outras, apresentadas em conjunto por bancadas setoriais ou estaduais. Integra o rol de empenhos prometidos uma emenda de R$ 3,6 milhões proposta pela Comissão de Agricultura da Câmara. Também fazem parte da lista uma emenda de R$ 500 mil apresentada por congressistas do Piauí e outra de R$ 240 mil redigida pela bancada do Rio.

Ainda à tarde, o governo empenhou uma emenda do deputado Tarcísio Zimmermmann (PT-RS) no valor de R$ 80 mil. Outro atendido foi João Tota (PL-AC), com R$ 200 mil. Nenhum dos dois acabou assinando o requerimento.

O governo tem até R$ 700 milhões em emendas para distribuir entre os fiéis. A operação foi conduzida pelos ministros José Dirceu, da Casa Civil, e Aldo Rebelo, da Coordenação Política, que chegou a chorar na frente de um deputado ao falar sobre a crise política.

À tarde, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que assinou o requerimento, foi procurado por dirigentes de seu partido que o ameaçavam de expulsão. "Estão oferecendo R$ 1 milhão dessas emendas em que se tiram 20% para os prefeitos. Disse para eles que não quero isso. O que eu quero são os 23% do aumento dos militares."

O governo abordou até oposicionistas. A deputada Ana Alencar (PSDB-TO), suplente de um petista, foi obrigada a retirar a sua assinatura - diante da ameaça de que o titular assumiria.