Título: 'Presidente, não faça isso. Não tente impedir a CPI'
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Espaço Aberto, p. A2

O embaixador do Brasil na Itália, Itamar Franco, defendeu ontem a instalação no Congresso da CPI dos Correios e disse que o governo do presidente Lula comete um "erro grosseiro" ao tentar evitá-la, levantando "suspeição" sobre "quem quer mostrar que está dirigindo o País com objetivos claros". Ele também cobrou a demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e do ministro da Previdência, Romero Jucá, classificados como "quistos no governo". Itamar, que está deixando o posto em Roma e já marcou viagem definitiva de volta ao Brasil para o dia 1.º de setembro, se reuniu ontem por duas horas com o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), no Palácio das Mangabeiras.

Ao final do encontro, o ex-presidente e ex-governador mineiro destacou que ao chegar, na semana passada, encontrou o País "sob uma perplexidade". "Nós nos encontramos numa situação complicada de ver o quadro nacional como ele está se apresentando no momento. Confuso parlamentarmente, confuso em termos de governo", observou.

Questionado a respeito da CPI dos Correios, ele condenou a ofensiva governista para impedir a investigação. Itamar chegou a fazer um apelo a Lula: "Presidente, não faça isso. Deixe o Congresso Nacional agir livremente. Não tente impedir uma comissão parlamentar de inquérito. Porque isso, ao contrário, traz prejuízos ao governo e traz prejuízo, muito mais sério, à população".

Para o embaixador, o governo erra ao "tamponar ou tentar tamponar" uma CPI. "Ele tem de deixar que essa comissão haja com a maior liberdade. Isso interessa ao governo. Se há alguma coisa errada, o governo tem de corrigir mais à frente", destacou, lembrando que quando senador presidiu a comissão que investigou o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha, firmado nos anos 70. Para Itamar, é falsa a justificativa de que CPI "não adianta".

Sobre as acusações que envolvem Jucá e Meirelles, Itamar disse que eles "tinham a obrigação moral" de renunciar aos cargos. "Aqui, o que é lamentável é que o senhor presidente do Banco Central e o ministro da Previdência não entregam esses cargos. Isso é um absurdo que no nosso País está acontecendo." Como não o fizeram, disse que Lula cometeu um "erro fatal", pois "a presença deles macula o governo e não convém a um governo petista".

"Porque quando nós éramos presidente da República, o PT, a todo instante, nos batia. Não convém ao PT, não convém ao presidente a permanência desses homens. São quistos no governo. Quistos no governo faz mal à opinião pública", enfatizou.

Para reforçar seu argumento, lembrou que na época em que ocupava a Presidência, afastou o então ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, quando surgiram denúncias de que ele participava de um esquema de manipulação do orçamento da União. Inocentado pela CPI do Orçamento, Hargreaves foi reconduzido ao cargo.

"Eu acho um erro fatal do presidente Lula ele não tirar (Jucá e Meirelles do governo). Tire. Não deu nada, volte, mas deixe ser apurado primeiro. Não estou dizendo que eles são culpados. Estou analisando o mérito."