Título: Eleição não afeta economia, diz Lula
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Economia, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um recado certeiro aos 14 empresários e dirigentes de entidades coreanas com quem se reuniu reservadamente no café da manhã de quarta-feira: a eleição não vai atrapalhar a linha de condução da atual política macroeconômica do Brasil. Segundo o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que acompanhou o encontro, o presidente ressaltou que governará independentemente do processo eleitoral de 2006, pouco depois de ter apresentado os indicadores mais favoráveis da economia brasileira desde o ano passado. Entre eles, a taxa de risco país e os resultados comerciais. Lula teria dito aos empresários que a eleição não pode provocar problemas para a continuidade da política econômica, que deu resultados e deve ser mantida. Acrescentou que seu governo mantém uma estratégia macroeconômica para os próximos 15 anos - sem indicar que pretende continuar no poder por tanto tempo. O presidente disse, ainda, que prefere buscar o crescimento econômico sem pressa e sem a ansiedade de obter porcentuais muito elevados, que poderiam entrar em rápido declínio por ausência de "alicerces".

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, confirmou as declarações de seu chefe e lembrou que o presidente insistentemente tem dito que não é hora de discutir eleição. "O momento agora é de discutir o governo, as medidas para o crescimento e o desenvolvimento."

POTÊNCIA

Horas depois, no almoço oferecido por quatro entidades empresariais da Coréia, o presidente aproveitou para reafirmar publicamente essa diretriz. Em discurso, disse que seu governo está construindo uma "política econômica sólida", capaz de conduzir o País a um "crescimento sustentável e duradouro" e de dar condições para a combinação do controle nas contas públicas e de investimentos. O objetivo final, arrematou ele, seria tornar o Brasil um "país desenvolvido" e a "potência do século 21". O mesmo refrão foi repetido no seu encontro com a comunidade brasileira na Coréia, no hotel em que estava hospedado.

"Todo mundo sabe que o Brasil tomou uma decisão de se transformar em uma grande nação. O Brasil está cansado de ser chamado de país em desenvolvimento. Nós tomamos a decisão de fazer com que o País se transforme definitivamente em um país desenvolvido", disse. "Sabemos que isso não é rápido. Sabemos que isso não acontece em um, em quatro, em cinco anos. Mas resolvemos apostar nos alicerces corretos para que o Brasil dê passos progressivamente e não retroceda."

Em um improviso, Lula concluiu que talvez não chegue a ver os resultados das políticas que vem conduzindo no País nem da parceria que pretende consolidar com a Coréia. Mas ressaltou que a omissão poderia levar ao mesmo retrocesso de outras experiências do passado. "Não queremos repetir erros históricos." O presidente ainda relatou que, na conversa com o presidente da Coréia, Roh Moo-Hyun, afirmara que seria impensável manter uma relação comercial tão pequena entre os dois países. De fato, a corrente de comércio totalizou apenas US$ 3 bilhões no ano passado.

Na mesma linha, Lula afirmou que as empresas brasileiras poderão melhorar muito a qualidade de seus produtos para exportação, mas ponderou que o País é o maior exportador de produtos básicos - carnes, minério de ferro, café - e de suco de laranja, considerado uma manufatura. Por fim, valeu-se da Embraer para sustentar a alta competitividade da indústria nacional. "Muita gente pensa que o Brasil é só exportador de produtos in natura. Mas o Brasil tem suas indústrias de ponta, pode exportar tecnologia com muito valor agregado", disse. "Agora, temos de olhar para a frente, velejar bem esse barco para que a gente possa se encontrar em alto-mar para, um dia, estourar um champanhe parabenizando a Coréia e o Brasil por essa aliança", completou.

No fim da noite, ao ser recebido para um jantar pelo presidente coreano, Lula burilou um pouco seu discurso, lido de começo a fim, sem improvisos. Em um esforço para demonstrar semelhanças entre Brasil e Coréia, disse que ambas as economias são "dinâmicas, pujantes e em acelerado processo de modernização e têm um "longo caminho a percorrer nos planos tecnológico e social". "Como no passado, a Coréia continua a preservar sua personalidade, sem abdicar de uma integração dinâmica na economia mundial", afirmou. "O Brasil tem procurado traçar para si mesmo uma trajetória semelhante."