Título: Governo capta mais US$ 500 milhões
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Economia, p. B5

O governo aproveitou ontem o momento favorável no mercado externo para o Brasil e captou no exterior mais US$ 500 milhões em títulos da dívida externa, com prazo de vencimento em 2034. Foi a segunda emissão no exterior em 15 dias e a quinta do ano. Atrelados ao dólar, os títulos chamados de Global 34 são o segundo papel mais longo da dívida externa brasileira. Só perdem para os Global 40, com vencimento daqui a 35 anos, em 2040. Com a emissão dos Global 34, o Tesouro já conseguiu praticamente completar os US$ 6 bilhões de captações externas previsto para o ano. Já foram captados US$ 5,4 bilhões, faltando apenas US$ 600 milhões para serem obtidos até o fim do ano. Esses recursos são necessários para o governo honrar os seus compromissos no exterior com o pagamento dos encargos da dívida externa.

Os papéis lançados ontem pelo Brasil foram vendidos com um custo de 8,25% ao ano, 440 pontos básicos acima dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos com prazo de 30 anos. Os papéis foram negociados com deságio de 5,8%. A operação garantirá ao investidor que comprou o papel uma taxa de retorno de 8,814% ao ano. O venda saiu um pouco mais cara do que na primeira oferta dos Global 2034, em janeiro de 2004. Naquela ocasião, o governo vendeu US$ 1,5 bilhão com uma taxa de retorno ao investidor de 8,75% e spread de 376 pontos acima dos títulos americanos.

Apesar do custo maior, o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antônio Gragnani, considerou muito positivo o resultado da captação. Segundo ele, o momento do mercado hoje é diferente daquele que estava em vigor quando o governo lançou pela primeira vez os Global 34. Na primeira oferta, o risco Brasil era menor no momento da negociação (410 pontos) e ontem estava em 432 pontos. Quanto menor o risco do país, menor é a taxa que o governo tem de pagar aos investidores. Outra diferença é que na primeira captação a taxa de juros americana era de 1%, e atualmente está em 3%. Quanto maior os juros praticados nos Estados Unidos, maior a disputa por investidores. Com isso, para compensar o risco que oferece, superior ao americano, o governo brasileiro é obrigado a pagar taxas maiores aos compradores de seus papéis. Com os juros americanos mais baixos, em 2004 a liquidez de recursos no mercado internacional estava muito favorável aos países emergentes, como o Brasil.

"Da primeira para a segunda emissão, o risco Brasil subiu 22 pontos, mas o yield (taxa de retorno para o investidor) subiu apenas 6 pontos", ponderou o secretário, responsável pela administração das dívidas interna e externa. "Para o perfil da dívida, é fantástico vender um papel com prazo de 30 anos", ressaltou. Segundo Gragnani, a demanda dos investidores foi "muito superior" à oferta brasileira.

Ele informou que o Tesouro aproveitou o momento positivo para o Brasil no cenário internacional. Essa melhora, afirmou, tem ocorrido independentemente da liquidez internacional e reflete os bons indicadores da economia do Brasil e maior confiança dos investidores.

Na avaliação do secretário, o momento político atual, com o risco de instalação da CPI dos Correios, não afeta as captações. "Um ou outro pequeno desacerto na área política não tem influência", afirmou.