Título: Crédito ao consumidor não cai, mas empresas reduzem empréstimos
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Economia, p. B5

Os aumentos consecutivos na taxa de juros não têm impedido o crescimento do crédito aos consumidores. Porém, a perspectiva de que essas altas vão reduzir o ritmo de expansão da economia tem levado as empresas a pôr o pé no freio nos projetos de investimento, diminuindo a procura por empréstimos. Esse comportamento está refletido nas estatísticas do Banco Central, que mostram a evolução do mercado de crédito no País. Em abril, enquanto o volume de empréstimos para as pessoas físicas cresceu 3,5%, atingindo R$ 129,9 bilhões, o estoque de operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal fonte de financiamento para as empresas que querem expandir a capacidade de produção, caiu 1,6%, somando R$ 94,8 bilhões. No acumulado do ano, o estoque de crédito ao consumidor sobe 14,7% e o do BNDES recua 2,4%. As consultas das empresas ao BNDES, um termômetro das intenções de investimentos, caíram 5,9% nos primeiros quatro meses do ano, comparadas com o mesmo período de 2004. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, houve "parada momentânea" na procura, mas como as empresas têm outras fontes de financiamento, como lançamento de títulos e ações e empréstimos a bancos privados, esse recuo não significa redução proporcional de investimentos.

Descontadas as operações do BNDES, os empréstimos a pessoas jurídicas cresceram 2,5% em abril e 7,3% nos quatro primeiros meses do ano, bem abaixo das operações com pessoas físicas.

Para o ex-diretor de Política Econômica do BC Sérgio Werlang, responsável pela implementação do regime de metas de inflação, o volume de empréstimos na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é muito baixo e, por isso, pouco transmite à economia os efeitos da política monetária. "Os juros atuam de forma mais forte nos setores de bens duráveis e de capital", diz, destacando segmentos diretamente ligados à evolução dos investimentos.

Em abril, o total de crédito concedido pelos bancos alcançou R$ 515,4 bilhões, 27% do PIB. Apesar de ser o maior porcentual desde maio de 2001, quando chegou a 29,4% do PIB, esse valor ainda é baixo em comparação com outros países. Segundo Lopes, não fosse a política monetária apertada, o crédito às pessoas físicas estaria ainda maior.