Título: 'Tire a assinatura porque vão pagar nossas emendas'
Autor: Denise Madue¿o, Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Nacional, p. A4

A frustrada operação contra a CPI dos Correios levou o Palácio do Planalto a liberar num único dia - a última terça-feira - um total de R$ 12 milhões para emendas de parlamentares ao orçamento da União que estavam retidas na rubrica "restos a pagar". O valor corresponde a 26% de todas as despesas autorizadas nessa rubrica ao longo deste ano. Nos primeiros cinco meses, o governo tinha liberado apenas R$ 47 milhões para as emendas de parlamentares. Com os restos a pagar quitados na terça-feira, o total sobe para R$ 59 milhões.

A liberação da verba milionária foi uma exigência de parlamentares aliados e reforçou a ofensiva para que congressistas retirassem o apoio à criação da CPI. Do ponto de vista político, a manobra, como se viu, foi malsucedida. Em números redondos, o PMDB abocanhou R$ 2,2 milhões dos restos a pagar, enquanto o PT ficou com outros R$ 2 milhões. O PC do B saiu beneficiado e arrancou em emendas mais R$ 600 mil. "Houve um aumento de 23% para o PT, 59 % para o PMDB e 46% para o PC do B em relação às liberações anteriores", afirmou o deputado Alberto Goldman, líder do PSDB na Câmara.

A operação abafa, comandada pelos ministros José Dirceu, do Gabinete Civil, e Aldo Rebelo, da Coordenação Política, mobilizou ministros, governadores, parlamentares petistas e até o líder do MST, João Pedro Stédile - que telefonou para três deputados.

A abordagem era direta e clara. Nas ligações e conversas cara a cara, os governistas avisavam que quem retirasse a assinatura seria imediatamente premiado com a liberação de verbas. Abordado pelos operadores do governo, o deputado João Magalhães (PMDB-MG), que tinha apoiado a CPI, ligou para o colega João Correia (PMDB-AC), que também assinara o requerimento, e avisou: "Tire a assinatura porque eles vão pagar as nossas emendas."

Entre os parlamentares, o grupo mais cético com a generosidade palaciana era o dos deputados federais ligados a Anthony Garotinho. O deputado Eduardo Cunha (PMDB -RJ) disse que não se pode acreditar no que o governo promete: "Esse é o governo do vou-mas-não-vai". Em vez de receberem verbas para evitar a CPI, eles decidiram somente negociar com o governo já com a CPI aberta e em pleno funcionamento. Outras bancadas preferiram não esperar. A da Comissão de Agricultura levou R$ 3,8 milhões e a do Piauí outros R$ 500 mil. A bancada fluminense mordeu R$ 240 mil.