Título: Planalto prepara boicote para atrasar CPI
Autor: Denise Madue¿o, Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Nacional, p. A4

Depois do fracasso da operação para barrar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, o governo agora está disposto a usar todas as armas disponíveis para retardar as investigações. Os aliados do Palácio do Planalto deverão boicotar as reuniões, atrasando a instalação da CPI. Ao mesmo tempo, tentarão convencer a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de que o texto do requerimento da CPI contraria as regras, o que impediria sua criação. Se tudo isso der errado, a idéia é garantir o controle dos trabalhos com o estabelecimento de uma maioria confiável na CPI e a indicação de aliados fiéis nos postos de comando. "Vamos à guerra com todos os seus horrores", disse o líder do PP na Câmara, José Janene (PR). "Que vai ser ruim para o País, vai." Os petistas alegam que a abertura da CPI poderá ser rejeitada pela Comissão de Constituição e Justiça porque o requerimento não restringe as apurações a um fato determinado, como exige a Constituição. "O pedido não identifica um objeto de investigação", disse o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF). O requerimento fala em apuração de "atos delituosos praticados por agentes públicos nos Correios", delimitação que o parlamentar considera muito genérica. Além disso, argumenta Sigmaringa, o texto cita supostas irregularidades em outras empresas, como o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Os oposicionistas, porém, avaliam que o texto é suficientemente preciso e enxergam no recurso à Comissão de Constituição de Justiça apenas uma manobra para retardar os trabalhos. "Se essa CPI não fosse aberta por falta de fato determinado, nenhuma outra poderia ter funcionado, nem a do Proer, nem a do Banestado, nem a da pirataria", rebate o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).

Até que a questão seja esclarecida, os governistas tentarão impedir a eleição do presidente da CPI. A dúvida é quanto à capacidade do governo de resistir à pressão da opinião pública. "Quanto mais o governo adiar o início dos trabalhos mais sua imagem ficará desgastada", aposta o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Caso seja impossível impedir o início das investigações parlamentares, os aliados de Lula vão brigar então para indicar o relator da CPI, cargo tido como o mais estratégico em qualquer comissão. O nome mais falado até agora é o do Professor Luizinho (PT-SP), conhecido pelo vigor com que trabalha pelos interesses do Planalto.

"Não descartamos nenhuma manobra regimental para ficar com a relatoria", avisou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Num encontro marcado para terça-feira, os líderes dos partidos governistas vão discutir que nomes são os mais adequados para compor a CPI. "O critério tem de ser o da experiência política, do conhecimento de questões regimentais e da coragem para defender o governo", completou Chinaglia.